No começo não existiam expectativas.
Ele era um simples ser.
Eu, alguém que estava aprendendo a curar certas feridas.
O primeiro beijo foi normal. Só.
E aquele momento transcorreu normalmente.
O segundo beijo foi melhor. Só.
Mas depois daquela noite tudo mudou.
É complicado externar as emoções que eu vivi.
Ouvi palavras sinceras.(?) Meus ouvidos gostaram daquela nova sensação.
No dia seguinte eu recebi minha primeira mensagem.
Eu sei, parece infantilidade minha, mas eu nunca havia recebido alguma
mensagem daquela forma, de outra pessoa.
Me transtornei.
As palavras ditas ficavam ecoando em meus pensamentos.
Os sorrisos, os abraços, os olhares...
Tudo tão distante mas ao mesmo tempo tão perto.
Alerta vermelho. Perigo.
Eu não posso me apaixonar. Não por enquanto.
E isso é fato. E eu entendo os motivos (?).
E acredite, não sei se isso é o melhor ou o pior de tudo.
Entendo todas as restrições que me foram impostas,
mas meu coração continua com sua vida própria.
Se emancipou desde cedo. Acha que já é gente grande.
Só esquece, que eu não ainda não sou. Não pra isso.
O terceiro beijo foi perfeito.
Mas depois, a noite foi um inferno. Não era pra ser assim.
A violência ultrapassou todos os limites.
Nunca imaginei uma situação igual.
Os laços já existentes foram cortados. O silêncio se instalou.
O quarto beijo foi perigoso. Instigante.
Mas foi a primeira vez que eu senti que alguém estaria do meu lado,
independente da situação.
Ou pelo menos eu achei que estaria.
O quinto beijo foi frio. Um frio externo e interno.
Para mim, o prenúncio do fim.
Para ele, só mais um beijo normal. Sem sentido.
Meses e meses se passaram. Existia um contato.
Uma conversa trivial. Só.
O sexto beijo, por incrível que pareça, aconteceu.
Não era esperado. Nem sonhado. Muito menos desejado.
Teve areia, vento, lua, mar e a melhor música.
Parece perfeito, não é? Acredite, não foi.
Seria perfeito se os dois estivessem sintonizados.
Do que adianta entrar na guerra se estamos sozinhos?
Meses se passaram mais uma vez.
E eu, (tola) ainda esperava.
Esperava. Chorava. Esperava. Abria os olhos.
Esperava. Juntava forças. Esperava. Caía.
Esperava. Levantava. Esperava. Pensava mais em mim.
Esperava... Como esperei.
E toda essa espera, foi fundamental.
Se tivesse me precipitado, teria afundado mais uma vez.
O sétimo beijo? Ah...quase aconteceu.
Meu coração estava prestes a ter uma taquicardia enorme.
Minhas pernas ficaram bambas.
Aqueles olhos nos meus. Aquelas lembranças de tudo que foi tão bom.
Ele estava tão perto. Mas dessa vez, eu estava longe.
A minha espera me ensinou, que eu não quero
suprir eventuais carências afetivas que aparecem
de uma hora para outra, sabendo que todo sentimento que eu carregava,
não foi valorizado, uma vez sequer.
Me ensinou que as expectativas criadas, partiram de mim,
e que se eu fui suficientemente fraca para criá-las,
serei suficientemente forte para excluí-las.
Sim, fui fraca deixando que expectativas tão grandes
fossem depositadas em alguém que ainda não está
preparado para todas as consequências.
Então, foi assim que o sétimo beijo não existiu.
Aquele momento encerrou um ciclo, que no início, parecia eterno.
É, eu queria que fosse assim. Queria que tudo fosse verdade.
Mas infelizmente, o meu eterno acabou aqui.
Se resumiu a isso. Só.
Mas esse só, um dia foi tudo que eu sempre quis.
Em algum momento, alguém vai ser capaz de encontrar
os meios corretos para chegar até o principal.
Foi difícil deixar tudo que houve.
Porque cada momento, por menor que tenha sido,
foi muito importante pra mim.
Agora eu sigo.
E continuo tentando me convencer de que renunciar foi a melhor opção.
Não era amor. Mas doeu.
"Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias
e dos fatos. Eu estava plena e convicta.
Estava tranqüila e sem planos. Estava bem sintonizada.
E de um dia para outro estava sozinha, estava antiga,
escrava, pequena.
Parece o final de um amor, mas não era amor.
Era algo recém nascido em mim, ainda não batizado.
E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado
às três da tarde de um dia de sol.
Foi como se a praia ficasse vazia..."
(Martha Medeiros)
"Então ela chorou...
Todos compreenderam seu choro, e não perguntaram nada,
nem tentaram consolá-la.
Os traços de seu rosto pareciam desfazer-se com as lágrimas,
caindo líquidos na madeira marcada.
Mas os ombros não tremiam, e não havia nenhuma
contração em sua boca, nenhum som em sua garganta.
Sem revolta, ela aceitava.
E chorava pela perdição de aceitar o que não pode ser modificado."
(Caio Fernando Abreu)