domingo, 27 de março de 2011

O princípio.

Minha professora de Filosofia nos disse que ‘o mundo é como um mosaico. Como a história e a vida estão em constante movimento, não temos todas as peças disponíveis. ’ Estas palavras surgiram em meio ao nosso debate sobre as diversas Teorias sobre a Origem do Mundo.  Toda teoria necessita de uma base, um início, algo que dê suporte para os possíveis conceitos que irá defender. Assim, podemos citar nosso grandioso Darwin com sua Teoria da Evolução, onde as espécies mais adaptadas ao ambiente é que sobrevivem, ou mesmo os Neoplatônicos,  filósofos que se baseiam nos desdobramentos, colocando o Uno como o centro de tudo e de todas às demais criações. A partir de pequenos e básicos conceitos filosóficos sobre a possível Origem do Mundo, proponho um novo olhar sobre outro tipo de origem: a do amor.
Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins – no livro – Filosofando: Introdução à Filosofia, nos contam sobre um possível início do amor. Assim elas dizem: 

"Aristofánes, o melhor comediógrafo da época, relata o mito segundo o qual, no início, os seres eram duplos e esféricos, e os sexos eram três: um constituído por duas metades masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro, andrógino, metade masculino, metade feminino. Como ousassem desafiar os deuses, Zeus cortou-os em dois para enfraquecê-los. Cada ser tornou-se então um ser fendido, e o amor recíproco se origina da tentativa de restauração da unidade primitiva.”

Antes do amor, existe a paixão. Concordamos, a grande maioria pelo menos, que amor à primeira vista fica reservado aos filmes com o dito ‘felizes para sempre’. Se alguém discordar, aceito prontamente novas opiniões que possam tentar me convencer do contrário.  Paixão é loucura, é taquicardia a milhões, é um brilho nos olhos e uma dor forte, caso não venha a se concretizar o ideal do amor. Paixão é o nosso Big Bang da Origem do Universo, uma explosão com resquícios para todos os lados. Depois de passada essa febre, é necessário que algo mais tenha se estabelecido. Caso contrário, na grande maioria das vezes, a estória de amor tende ao fim.
Eis então os primeiros sintomas do amor. Há um brilho diferente no olhar, as tarefas mais árduas parecem ganhar um estímulo a mais, acordar em plena segunda –feira não parece mais tão temível, afinal as lembranças do final de semana são às melhores possíveis, sem falar que já é segunda novamente, então sexta ou quem sabe quarta, não devem demorar tanto assim a chegar. Amor é bonito sim. É mais do que beijo na boca, é beijo na alma. É aquela troca de olhares que arranca um sorriso saudável, aquele entrelace de mãos que já não suam mais como no início, mas agora sentem um calor que provém de uma segurança inexplicável. Cito aqui alguns sintomas típicos, porque não ousaria tentar explicar o que realmente o amor nos causa. Amor é surpresa, é novo a cada dia. Exatamente como a Teoria de Heráclito que nos diz que nunca entraremos duas vezes no mesmo rio.
Mas relembrando as primeiras palavras da minha professora, quando disse que ‘não temos todas as peças disponíveis’, nos vemos frente à outra face que o amor nos oferece. Porque não podemos pensar que tudo vai ser belo e doce. Amor dá medo também. Dá um nó nos pensamentos, dá um frio na barriga quando o telefone não toca, faz surgir lágrimas quando expectativas são quebradas, e traz silêncio quando não sabemos mais qual será a continuidade de tudo que já vivemos a dois.

Não ter o quebra-cabeça pronto é um desafio. Imaginamos onde encontrar as peças e com quem dividir a nossa imagem em pedaços. Assim como o mundo e sua origem sempre vão ser uma incógnita, ou por enquanto ainda são, os motivos do amor também serão. Não há motivo para explicar porque nos apaixonamos por alguém que parece ser o nosso oposto. Ou até mesmo, por que não nos apaixonamos por ninguém, nem por nós mesmos? O amor é instigante, eu diria. É um sentir sem motivos, sem explicações. Parece irracional. E assim é. Racionalizar o amor é quase que impossível. Precisamos sentir muito, em todos os aspectos, para depois quem sabe, amar de um jeito torto, mas da melhor maneira que soubermos fazer.

Comparando o amor com às diversas Teorias sobre a Origem do Mundo, chegamos a uma única conclusão: assim como existem diversas teorias sobre a Origem, existem também inúmeras possibilidades de amar. Não há certo ou errado, nem bom nem mau, muito menos certezas. Existem princípios, conceitos, divagações, possibilidades. Mas o livre-arbítrio se impõe de uma maneira fulminante. Você decide no que acreditar e como amar. Sei que o senso comum estabelece certas regras, e quem sabe sejam essas às que você, eu, todos sigam. E se não forem (porque sim, não é preciso ser comum!) tudo bem. O que importa aqui é acreditar que há um início, um começo, um princípio de tudo. Tanto do mundo, como do amor. Basta agora que você deixe que todas estas possibilidades entrem em sua vida. E mesmo que tudo isso pareça extremante confuso, busque indagar sobre o que o amor cria em você. Respostas fixas são difíceis de encontrar, porque quem sabe, não desvendar o mistério seja o que nos faça amar novamente, mesmo depois do nosso mundo ter caído mais uma vez. Eis então que me pergunto:
- Se existem tantas teorias, por que não podem existir novos e desconhecidos amores?



PS: este texto é minha tentativa frustrada de acreditar que o amor ainda pode existir. Quer tentar acreditar comigo, mais uma vez? 

sábado, 26 de março de 2011

O meu poço mais fundo.

Sinto como se precisasse arrancar tudo que existe aqui dentro.
Uma angústia, um aperto. Um medo de sufocar com tudo isso.
Era pra ser liberdade, mas continua sendo só solidão.
E solidão é um poço fundo. Acho que estou prestes a me afogar.
E agora?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Branco.

Apago o que digo. Não por ser mentira. Acho que tudo aquilo que confessei foi a minha verdade mais bonita. Mas amor precisa ser dois, e por enquanto ele não é nem um. Estou pela metade, reconstruindo cada pedaço. O que continua intacta é a minha verdade. Só que aprendi que guardada lá dentro, ela fica ainda mais bonita. Você sabe dela. Eu sei da sua. Só. O resto dói demais pra externar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Tudo ainda existe.

E se tivesse dado certo? – ela se pergunta. Teriam, quem sabe, comemorado juntos os últimos setecentos e trinta dias que se passaram. Teriam deixado sorrisos maiores na memória. A companhia resistiu ao fim. Não exatamente aquela em que poderiam se olhar e se tocar, mas aquela que se perpetuou nas palavras que ainda trocavam. Houve longos períodos de silêncio, onde cada um fez e refez (ou pelo menos tentou) a sua vida. Surgiram outros beijos, outros abraços, outras pessoas. Mas o estranho é que, setecentos e trinta dias depois, sorrir ainda (e só) se tornava muito mais simples em sua companhia. Ainda era naquele mesmo lugar que a conversa fluía, que o coração sentia e que os olhos choravam de saudade. Nunca sabendo se o outro sentia ou deixara de sentir, os dois continuaram nesse afeto sem nome, nesse sentir ser explicação. Ela o achava instigante. Ele precisava da sua aprovação. Ela fugia constantemente, renegando o que sentia. Ele acatava cada palavra, num silêncio quase que desesperador. Outro dia mesmo, foram novamente longe demais. Palavras subentendidas ficaram pairando no ar.  E aquela mesma sensação de que teria sido bom se tivesse acontecido, surgiu outra vez.  Ela tem certeza que ainda sente. Ele não sabe se algum dia sentiu. E agora, será que os próximos setecentos e trinta dias podem juntar o que, inevitavelmente, nunca se separou? Ela gostaria muito, e às vezes acredita que ele também está aprendendo a gostar.  Quem sabe um dia será amor, será doce, quem sabe um dia será  real. 

sexta-feira, 11 de março de 2011

Escolhi ser quando crescer.

Seguindo o ritmo alucinado dos dias e vivendo a doce rotina de estudar algo que me fascina, coloco pé ante pé e sigo em frente. Esqueço de tudo quando posso simplesmente ouvir tudo que meus professores me oferecem. Sei que essa felicidade provém daquele início prazeroso que toda nova possibilidade nos oferece e que hora ou outra, o sonho terá sua porcentagem de inferno também. Mas enquanto vivo o lado bom de tudo isso, me delicio com tudo que que me faz viver cada vez mais para dentro e para os outros. Outro dia mesmo, minha professora surgiu com a seguinte afirmação: "Para ser psicólogo é necessário acreditar sempre, independente das circunstâncias, que uma pessoa pode mudar."
Naquele exato momento, eu, escondida no fundo da sala como quem procura uma segurança, apenas sorri. Aquele sorriso de canto, que esconde exatamente tudo que as palavras da professora puderam trazer à tona. Ao mesmo tempo em que tudo o que foi dito me fascinou, me trouxe uma sensação de dor. Fiquei e fico me perguntando ainda, como proceder quando acreditar que alguém pode mudar, faz com que esqueçamos que esta mudança talvez não seja exatamente o que esperávamos. Ou mesmo quando acreditamos muito, e os resultados parecem  insignificantes frente a nossa insistência. Minha professora assim como muitos, me fez pensar. E este extremo entre o pensamento e a dor, me faz venerar cada vez mais o que eu escolhi para ser quando crescer. Eu sei que ainda pode doer muitas vezes, mas a perspectiva de penetrar cada vez mais fundo nesse mundo é muito maior do que traumas que não voltam mais.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Cante flores, traga pra mim.

Ela sabia que ia passar, que a saudade iria cessar, que o coração iria acalmar e que a dor iria partir. Imaginava que a vida iria seguir e que em algum momento outro capítulo iria iniciar. Era assim, ao menos, que pensava nos dias em que sorrir era algo natural. O difícil era lidar com a chuva e com as nuvens que obstruíam o pouco de luz que era necessário para continuar. Quando tudo o que podia ver e sentir se tornava cinza, era normal se encolher e relembrar do que não voltaria mais. E é exatamente nesses dias que chorar se tornava não um problema, mas um início para algum tipo de solução. Quando a garota se apaixonou pela primeira vez, já sabia que o início teria seu oposto, o qual chamamos de final. Sabia que ao mesmo tempo em que existia um princípio de união, a brecha da separação começava a nascer. E quando o fim surgiu, quem sabe mais prematuro do que ela pode imaginar, foi difícil esconder que algo havia ficado pelo caminho. Então em dias cinzas como hoje, a garota sente falta dos seus pedaços, sente falta dos pedaços daquele amor. E o que dói mais fundo é saber que tanto o que partiu, quanto o que ficou, não está mais nesse novo rumo que ela decidiu seguir. Não foi só uma questão de escolha. A necessidade de mudar às vezes esconde seus motivos mais cruéis. O que lhe resta agora é saber que algumas novas flores já começaram a aparecer por esse novo caminho. E flores, mesmo em dias de puro cinza, não perdem a cor que possuem.