E se tivesse dado certo? – ela se pergunta. Teriam, quem sabe, comemorado juntos os últimos setecentos e trinta dias que se passaram. Teriam deixado sorrisos maiores na memória. A companhia resistiu ao fim. Não exatamente aquela em que poderiam se olhar e se tocar, mas aquela que se perpetuou nas palavras que ainda trocavam. Houve longos períodos de silêncio, onde cada um fez e refez (ou pelo menos tentou) a sua vida. Surgiram outros beijos, outros abraços, outras pessoas. Mas o estranho é que, setecentos e trinta dias depois, sorrir ainda (e só) se tornava muito mais simples em sua companhia. Ainda era naquele mesmo lugar que a conversa fluía, que o coração sentia e que os olhos choravam de saudade. Nunca sabendo se o outro sentia ou deixara de sentir, os dois continuaram nesse afeto sem nome, nesse sentir ser explicação. Ela o achava instigante. Ele precisava da sua aprovação. Ela fugia constantemente, renegando o que sentia. Ele acatava cada palavra, num silêncio quase que desesperador. Outro dia mesmo, foram novamente longe demais. Palavras subentendidas ficaram pairando no ar. E aquela mesma sensação de que teria sido bom se tivesse acontecido, surgiu outra vez. Ela tem certeza que ainda sente. Ele não sabe se algum dia sentiu. E agora, será que os próximos setecentos e trinta dias podem juntar o que, inevitavelmente, nunca se separou? Ela gostaria muito, e às vezes acredita que ele também está aprendendo a gostar. Quem sabe um dia será amor, será doce, quem sabe um dia será real.
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