sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Amanhã, depois, 2011

Querido 2011. 

Sei que agora estás no foco de tudo. Todos comentam sobre ti, todos te aguardam ansiosamente.
Antes de começar, já estás com uma incumbência perigosa: ser melhor do que 2010.
Os desejos são muitos: felicidade, amor, paz, dinheiro, mudanças, vida nova, tudo novo, de novo.
Pois bem, como mera mortal que sou, também tenho algo em mente. Gostaria de lhe pedir para que não sejas melhor nem pior do que teu antecessor. Seja apenas quem você precisa ser.
É claro que para alguns será maravilhoso, para outros será bom ou tranquilo e infelizmente, para alguns será cheio de quedas.  Não podemos prever o que virá.
Se pudesse escolher como você entraria em minha vida, gostaria de algo calmo mas inovador.
Anseio pelo novo por diversos motivos, e acredito que realmente é hora de mudar em diversos aspectos. Sobre quedas e medos? Sim, sei que não estou livre deles. Mas a cada dia crio e recrio minha auto-proteção, evitando que alguns deles cruzem meu caminho.
Dessa forma meu querido 2011, esteja livre para entrar em minha vida. Todas às portas estão abertas para que às novas possibilidades que você vai me apresentar, possam acontecer da melhor maneira possível.
Como diz nosso amigo Caio, Que seja doce.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sobra tanta falta

Não sei você, mas eu tenho Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, que me deixa frágil em determinados momentos. Nos últimos tempos, ela aparece sempre quando decido sair com os amigos.
Os dias que antecedem o programa marcado, são de bastante euforia. É um clima bom, um sentimento de felicidade por poder dividir determinados momentos com pessoas importantes. Mas quando a noite chega, ela chega também.

O começo da festa é tranquilo. Danço, apesar de ter plena consciência de que meu corpo não foi feito pra isso. Sou travada e isso é fato. Depois de um tempo, quando menos espero, ela se apresenta. Essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É  me assola com um desânimo que aperta, que dói, que me encolhe, me esconde. Às vezes penso que descobri o quão cruel a saudade pode ser. Ainda mais em mim, onde habita todos os recintos, principalmente os quartos mais escuros, onde constantemente me escondo.

Pois bem, deixe-me explicar melhor. Acredito que essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, esteve sempre dentro de mim. A diferença é que de uns tempos pra cá, ela tem se desenvolvido mais livremente. Ou eu não tenho mais controle sobre ela, ou ela já me controla totalmente há muito tempo.

Sair com os amigos sempre era um programa muito prazeroso. Às músicas tinham um belo sentido e o sorriso era uma companhia natural. E você - ou melhor, ele -  nem existia naquela época ainda.
Nunca busquei uma festa com os amigos apenas esperando encontrar e desfrutar da tua presença. Confesso que este bônus sempre era bem recebido, mas naquela época não percebia que isto só alimentava ainda mais o crescimento desta Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É.

Na primeira noite em que nos encontramos depois de tudo que houve, onde pela primeira vez eu soube que sua presença seria real, mas longe da minha, descobri que essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, começava a cortar e latejar mais fundo.

Aquela solidão pesava tanto que, mesmo ao redor de diversas pessoas, me sentia totalmente sozinha. Naqueles instantes descobri pela primeira vez que o que começava a faltar não estava  ao alcance dos olhos. Existia também uma quantidade torrencial de lágrimas que insistiam em aparecer. Eu me esforçava, às escondia, relutava para que não surgissem, mas ao simples olhar dos amigos, porque eles sempre sabem quando há algo que machuca por dentro, lá estavam elas. Nunca deixei que fluíssem na tua frente. Não por uma questão de orgulho, mas por saber que não eras tu o único culpado por este estranho vazio que se instalava aqui dentro.


Em algumas raras exceções, transcorri a noite inteira sem em nenhum momento notar a presença dessa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É. Hoje vejo que estas noites sempre ocorriam quando tinha ao meu lado, por pelo menos aquele momento, tua companhia. Estava caindo em um poço escuro, onde minha ânsia me cegava cada vez mais. Me escondia em minhas próprias expectativas, sendo tola ao esperar que virias me resgatar deste lugar que eu mesma havia criado.

Nos últimos tempos onde, com toda força que me resta, insisto e abro todas as janelas para que o sol reine sobre as sombras, começo a cultivar a mudança em minha vida. Não por querer apagar teu rastro em meu caminho, mas por encarar toda mudança como um ganho. Nunca uma perda. Nem minha nem tua. Mas sim um acréscimo de novas e velhas partes de mim mesma, para mim mesma.

Já existe um tipo de saldo positivo. Novos empregos. E dois de uma vez só. Meu dia começa a receber de presente um novo cronograma. A aprovação no vestibular me estimula ainda mais, para que no próximo semestre meu foco esteja centrado na arte de estudar o que todos tem medo de sentir.

Essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, continua aqui. Eventualmente dói. E dói fundo.
Nessas horas, costumo me lembrar dos nossos primeiros encontros. Do nascimento de uma coisa que eu também não sabia o que era. A diferença entre a de ontem e a de hoje, é a maneira como às aceito e cultivo em minha vida. Era uma necessidade que passou a ser  falta.

Às vezes penso que era amor. E quando penso, choro. E quando choro, abro as feridas. E enquanto permito que elas mostrem o rosto, não quero me martirizar. Quero apenas que elas se esgotem. Que exalem toda dor que guardam em si. Para que a vida, uma hora ou outra, possa seguir em frente.

Sobre essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, não tenho definições nem conceitos estabelecidos. Às vezes aparece, às vezes some. Só sei que estou lutando para que essa ambiguidade não destrua tudo de sólido que um dia eu já possuí.
A dor passa quando acreditamos que somos sim, suficientemente capazes de continuar o caminho que nos espera. Nunca totalmente imunes à ela, porque a dor se faz presente para não nos deixar esquecer. Mas ao menos, livres de uma saudade que massacra muito mais do que qualquer perda que fique pelo caminho.

domingo, 28 de novembro de 2010

Paz

Parar e reconhecer a si mesmo. Eis a tarefa de um dia ou de uma vida.
Olhar para trás e ver que (sim!) você mudou. E dentro dessa perspectiva de mudança, não avaliar somente as perdas e as lágrimas. 
Sintonizar-se com aquilo que você é agora: sim, você precisa tentar.
Às pessoas que doeram ficaram pra trás. Junto delas, quem sabe uma parte tua. 
Mas só uma parte, nunca tudo.
Os pedaços perdidos no caminho não são uma falta. São um peso a menos. 
Uma renovação necessária, que só pode ser compreendida depois que tudo estiver amplo e aberto mais uma vez.
Sobre os sorrisos que ficaram para trás, há de se saber que são eternos. Todo momento de felicidade compartilhada dá sentido ao nosso caminho.
A nossa nova direção, ainda que inconscientemente, buscará uma felicidade maior do que a anterior. Por isso mudar, será sempre inevitável.
Quando os velhos temores voltarem, você escolherá como vai enfrentá-los. Se doer muito e você precisar chorar, então chore. Dê a si mesmo a liberdade de sentir o que o momento te traz. Mas, se fores capaz de avaliar teu medo sem receio algum de torná-lo algo insignificante, meus parabéns. Você está mudando, mais uma vez.
Se o amor surgir, ame. Sinta-se feliz e evite comparar as situações do hoje, com às vividas no passado. Só não se esqueça do que existiu, porque aprende-se muito quando o coração se parte. Não sobre o amor, mas sobre como nós sentimos o amor.
Um dia o coração descansa. Um dia tudo começa a doer menos. A felicidade começa a aparecer em coisas mais simples. A vida se enche de paz. E a mudança continua.
Porque mudar é como renascer. 
É como dar a si mesmo uma chance de começar tudo outra vez.
E tentar, tentar, tentar. É acreditar que é possível, que vale a pena.
Até que a paz, seja real. E acredite, ela pode ser.



sábado, 30 de outubro de 2010

Felizes para sempre, não.

Em minha infância, era comum ver minha mãe me contando aquelas lindas histórias infantis, com princesas, príncipes, castelos, bruxas e os 'felizes para sempre'.
Por um tempo, me satisfaziam aqueles enredos, afinal a certeza de um final feliz me confortava.

Com o passar dos anos, o natural aconteceu, e meu foco mudou. Sempre tive o hábito da leitura e vou carregá-lo comigo até o último instante, mas aquela velha história do 'felizes para sempre' já não completava mais o espaço que me faltava.
Era preciso que algo diferente, como uma mudança nesse cronograma já conhecido, acontecesse.
Não queria uma certeza sobre o final, mas sim a surpresa de ver até aonde a vida, e somente ela, poderia conduzir determinada história.

Talvez naquele momento, eu já começasse a ensaiar os primeiros passos para fora do bando. Não tinha a pretensão de me sobressair ou de inferiorizar aos demais. Eu só não gostava, nem vou gostar nunca, dessa coisa de que tudo precisa ser igual, pra todo mundo, Eu não era, nem sou melhor. Só um pouco diferente.

Os primeiros anos da escola foram tranquilos, pelo menos é assim que lembro deles. Fui sim, uma criança ativa, mas sem nenhum exagero. Tinha ciúmes dos meus amigos e dos meus brinquedos, mas o maior de todos, era com os os meus livros. Eles sempre foram uma parte fundamental, como um representação minha, então era perigoso aos meus olhos deixar que alguém assim os invadisse.
Nunca gostei do rosa. Eu era apaixonada por azul e assim segue sendo. Sem estereótipos sempre foi melhor.

Hoje, depois de algumas primaveras, leio absolutamente tudo que me faz bem naquele instante. Claro que me fixo mais em alguns gêneros e autores, porque existe sempre aquela cumplicidade silenciosa. Mas em inúmeros momentos, eu quero e preciso fugir daquela leitura habitual, e me permito experimentar o desconhecido, como que buscando algo que não precisa de um nome específico.

Mas bem, chegando ao propósito deste post, que segue meio confuso, assim como quem o escreve, me peguei pensando naquele 'felizes para sempre' que era tão bem pronunciado por minha mãe.
Um dia eu amei e cultivei essa realidade, afinal era disso que necessitava naquela idade onde se ama quase tudo sem um motivo ou um por que. 
E hoje, existem desejos distintos, desde encontrar alguém que ame, que traga plenitude, que odeie crises de choro, mas mesmo assim fique por perto. Que não compreenda o silêncio, mas assim o aceite e não o inunde com palavras infundadas, a fim de quebrar aquele clima estranho. E aliado à estes desejos, ainda está aquele que foi cultivado desde cedo: viver uma história sem um, ou dois, ou quantos forem, 'felizes para sempre', mas sim um felizes até que a vida e os dois, assim desejarem.

A nostalgia de relembrar aquelas velhas histórias infantis me trouxe um sentimento bom, mas não mudou minha concepção. Entre os últimos nascimentos do sol  e da lua, tenho vivido momentos que poderiam ser dignos destas histórias. Mas meu lado racional, que vem sendo exercitado a duras penas nos últimos anos, não permite que eu abra esse tipo de exceção.
Por favor, não me entenda mal. Não sou gélida, muito menos alguém incapaz de sonhar e apreciar momentos de felicidade. Mas eu prefiro que o início não dependa de um 'felizes pra sempre' para se tornar algo eterno.

Eterno para mim, é tudo aquilo que vai ser lembrado nos momentos mais impensados da nossa vida. É aquela sensação boa que pode te invadir quando você, por mero acaso, se deparar com uma lembrança, um som, uma música, ou uma palavra qualquer.

Se pudesse reviver determinados momentos, assim eu os faria.
Só que para eu me jogar do alto, sem medo da queda, com uma vontade imensa de apreciar o que aquele salto pode me proporcionar, eu preciso que a vida me mostre que tudo pode ser real.
Não há espaço para o que não faz meu coração vibrar. E hoje, depois de tudo, existe muito pouco disso. 

Quando algo surgir por aqui, eu sei que ele não vai precisar de um 'felizes para sempre', para ser exatamente tudo que eu sempre sonhei. O que me faz bem, não merece ter um prazo de validade, mesmo que este seja a eternidade dos dias. 

sábado, 23 de outubro de 2010

Um quase amor de verão

Em um dia qualquer, você se disponibiliza a aceitar um contato desconhecido.
Abre uma exceção, e não sabe nem bem o por quê.
Pensa consigo mesma: será apenas mais um papo trivial, coisa da vida moderna...

Inicia-se então a conversa. Aquele clichê inicial se estabelece.
Depois de uns tempos, a conversa toma rumos inesperados.
O papo flui livremente, e você nem percebe o tempo passando.
Antes de dormir, imersa em pensamentos, recorda que por um segundo pensou eu não aceitar nenhum tipo de exceção. Ainda bem que desconsiderou a ideia, por pelo menos um momento.

Dessa maneira, a conversa não era considerada uma obrigação. Acontecia em momentos providenciais.
Às vezes encontramos amigos assim, do nada, sem esperar. Acho que deveria ser sempre assim.
Expectativas nunca nos conduzem para o que realmente esperamos, então surpreender-se será sempre a melhor alternativa.

Alguns meses se passam e vocês se distanciam. Às conversas já não acontecem com tanta frequência, mas você nem liga muito, afinal desde que se conheceram tudo foi muito livre e assim seria melhor.
A vida seguia normalmente, como sempre deveria seguir.

A viagem programada há alguns meses, já estava se aproximando.
O destino previa lindas paisagens, incluindo o mar, seu refúgio e destino preferido.
Tudo seguia o rumo programado e a felicidade estava estampada em seu rosto.
As últimas conquistas haviam lhe trazido um novo olhar, uma nova esperança que antes estava perdida em algum lugar do quarto escuro.

Durante o passeio, alguns problemas ocorreram em seu meio de comunicação mais tradicional e por isso decidiu investigar a questão mais a fundo. Assim que conseguiu estabelecer sua conexão, escutou um chamado inesperado.
Assim do nada, depois de um longo silêncio entre os dois, recebeu um Oi, quanto tempo?

Se alguém lhe falasse que estava disposto a viajar de uma cidade à outra, num trajeto de quase duas horas, reservando um quarto de hotel para pernoitar, com a única e exclusiva vontade de te conhecer, você acreditaria?

E tem mais. Se ele conversasse com você olhando nos teus olhos, mostrando real interesse por tudo que você estava dizendo, mesmo que fosse uma bobagem cômica, causada pela ansiedade e pelo nervosismo, a fim de quebrar um clima de primeiro contato que se estabeleceu, e que depois ainda se mostrasse disposto a acordar antes das oito, em pleno sábado, para te acompanhar em uma caminhada matinal, perto do seu melhor refúgio: o mar.
Será que poderia ser real?

E se mais tarde, em mais uma surpresa, resolvesse ampliar sua estadia no hotel, a fim de te esperar depois de um passeio de estudos e assim que você chegasse, te levasse à um passeio e à um almoço, onde você ainda não consegue entender como o tempo passou tão, mas tão rápido. Ah, deve ser utopia, não é?

Nunca acreditou em contos de fadas, então porque isso deveria acontecer?  Ainda mais com ela, garota tímida onde o silêncio chega a transbordar, de tão evidente.

Hoje, ela conseguiu adquirir uma única certeza: abrir exceções sempre podem render uma boa história para contar. Sempre mesmo. E porque não, quem sabe, um quase amor de verão?

Hoje, ela já não duvida mais. A vida lhe ensinou a não duvidar. Só viver.
E se amanhã ela acordar e perceber que nada foi real, ela vai se contentar com as recordações.
Porque o primeiro quase amor de verão, a gente nunca esquece.



Foram momentos lindos. Obrigada por me tornar única naquele instante.
Me fez feliz, e isso eu vou guardar pra sempre.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O tal do dia

Cinco dias e chegam os 17 anos.
Dei pra pensar em tudo que houve e ainda existe por aqui.
Não gosto muito de estabelecer cronogramas, nem de criar metas fixas.
Prefiro chamar de sonhos. É assim que me conecto com às possibilidades do futuro.
Neste ano, decidi que não haverá confraternização entre amigos.
Nunca fui de grandes festas, nem nunca vou ser, mas sempre havia
uma mini-torta e alguns abraços à receber.
À medida em que o tempo passa, ficamos mais seletivos e não nos agradam mais os velhos costumes que achávamos já enraizados em nós. 
A mudança de idade, só reflete um número para preencher a regra social.
No dia em que encaro todos os problemas como alguém que não pode se abalar, tenho dentro de mim um ser com uma idade muito superior a minha.
Mas da mesma forma, no dia em que me encolho e só preciso do meu quarto escuro para sofrer a vontade, sinto como se uma criança ainda governasse essa vida imprevísivel.
E isso é unanimidade.
Todo mundo tem um pouco dessa junção de idades dentro de si.
Certos conceitos que eram fixos, estão sendo deixados para trás.
Não quero mais aquela dependência.
São quase dois anos lutando por algo sem sentido.
Chega um momento em que o foco muda e a vida segue.
Acho que chegou a minha vez.
Algumas dores antigas parecem descansar profundamente.
Outras surgem de uma maneira inesperada.
Entre chegadas e partidas, vou buscando o que há aqui dentro de mim.
Essa busca me conduz, me dá sentido, me alimenta.
Não sendo ingrata, tenho plena consciência de que vivi situações plenas e felizes, e de cada uma delas levo, com certeza, recordações eternas.
Os momentos ruins? Sempre existiram, sempre existirão. Mas hoje compreendo que eles me trouxeram um ganho incalculável, porque moldaram em mim uma estrutura mais forte, para que eventuais quedas e tropeços possam ser contornados com mais firmeza.
Hoje também percebo que nem todos à minha volta farão parte do meu futuro.
Isso também se encaixa nesse processo seletivo que realizamos no decorrer da vida. Já não tenho mais medo de abandonar àqueles que não acrescentam algo realmente significativo aos meus dias.
Dói concluir que algumas pessoas que te acompanharam desde o início não o fizeram por um amor recíproco. O que deveria ser uma relação sincera, de amizade e carinho, acaba por se resumir em sorrisos e palavras nem sempre sinceras.
O bom é perceber, que num momento inesperado, você conhece pessoas acima de todas as expectativas e as mantém firmemente dentro do seu círculo de amizades, afinal elas são realmente valiosas.
Essas, por maior que seja a distância, permanecem intactas para sempre.
No domingo, vou abrir os olhos e pensar: parabéns Muriel, você é uma garota de 17 anos.
Mas muito mais do que esse pensamento, vou desejar largar o que não cabe mais aqui.
Não é uma revolução. Só é uma limpeza necessária.
E uma vez feita, a vida pode seguir, até que a nova bagagem não tenha mais espaço para ocupar o que existe aqui dentro de mim.
Então eu volto e como sempre, começo tudo mais uma vez.








quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Apenas sentir

Tinha tudo para ser só mais uma terça-feira normal.
Acordar, tomar café, cuidar dos nenês, fazer almoço, lavar louça (é, vida doméstica), estudar, esperar o telefone tocar (porque ele precisa, muito, tocar), preparar-me pra escola e assim seguir, como o cotidiano exige.
Mas quando não se espera por mais nada, sempre existe algo a mais.

Na parte da manhã fui abençoada com a chegada de mais um ser especial.
Alguém que vai acrescentar mais sentido aos dias.
Betina se juntou aos meus nenês de uma forma tão encantadora que já conseguiu ganhar o meu coração. Tão carinhosa como é, com certeza irá aumentar ainda mais a dose de carinho que recebo pela manhã. Seja bem-vinda, minha nova menina. Seremos mais felizes juntas.

A tarde passou como um sopro, pois Betina ocupou a maior parte do meu
tempo. Me dei essa liberdade, de pelo menos por aquela tarde ignorar os
estudos para essa fase tão caótica de preparação ao Enem e ao vestibular.
Ser chamada de 'minha Mudi' pela Betina, foi extremamente bom.

De banho e café já tomados, segui rumo à escola.
O mesmo caminho percorrido por 11 anos. O mesmo visual e o mesmo rumo, mas que dependendo do dia, poderia sugerir novos atrativos, conforme eu estivesse disposta a imaginá-los.

Espanhol, inglês, sociologia e religião. Era esse o cronograma da noite.
Confesso que às terças sempre criam probabilidades muito grandes de uma possível falta ao colégio. Não que a matéria não me atraia.
Todo tipo de conhecimento é sempre positivo.
Mas existem fatores alheios que estão me puxando ao quarto escuro, e às terças
me trazem um dano escolar menor, caso eu decida me deixar levar ao fundo do poço.

Os três primeiros períodos foram entediantes, confesso.
Me gusta el español, pero yo no me sentía bien.
English? No.
Sociologia merece um crédito. A aula foi produtiva. O problema era eu.
Estava longe, longe, longe e nem sei aonde.
Então 21:00, recreio. Ainda bem. Sentia uma fome incontrolável.
Exagerei, passei dos limites. Quando na verdade até eu sabia que não era só aquela fome calórica que me consumia. Era uma fome além do explicável.

Então chegou meu último período de religião. Muitos foram os que já me questionaram se eu me incomodava com o fato de ser Luterana, enquanto os demais e até o próprio professor, eram Católicos. Bobagem. O que para mim é importante chama-se Deus, e o nome da igreja que o representa em questão, é só um detalhe. Sei que muitos não cultivam este hábito e eu assim
os respeito. Mas para mim Deus é importante e seguirá sempre em minha vida.

Nosso professor, há uma semana atrás, nos trouxe a seguinte proposta: em cada aula, um determinado grupo seria responsável por elaborar uma atividade e realizá-la com a turma.
O que era pra ser só mais uma aula normal, mudou a minha percepção sobre esse tipo de experiência. A mensagem distribuída por meus colegas, que organizaram a aula, dizia:
"Três Dias Para Ver - Helen Keller, com a seguinte pergunta:
- O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?"

- Uau, pensei! Deve ser mais uma daquelas mensagens que a gente recebe
em excesso pelo e-mail. Como sempre, essa primeira impressão que tiramos das coisas, fez com que eu me enganasse completamente. A mensagem era fantástica. Pelo menos para mim foi.
É muito relativo tentar expressar o que ela significou, porque isto vai depender diretamente da maneira com que ela vai atingir o seu leitor. Em mim acertou o alvo. Em cheio. Xeque-mate. Gol!. Cesta! Ou como você quiser chamar quando algo alcança o objetivo.

Helen Keller é cega e surda desde bebê. Nunca viu o sol nem o mar.
Nunca viu o azul. Nem o amarelo. Nunca viu uma lágrima,
um sorriso ou um olhar. Imagine você, que ve 24 horas por dia, e exerce este hábito automaticamente, não ter nem uma ideia concreta de como são estas coisas tão simples e cotidianas da vida. Helen escreve:
"Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som."

Foi exatamente isso que me fez tremer. Fiquei visualizando à mim mesma, impedida de ver a cor e o branco da vida, já que o que me restaria seria o olhar negro em que se afunda aquele que possui esta deficiência. É difícil imaginar, não acham? Ainda mais nós, que desde que nos conhecemos por gente estamos usufruindo deste bem maior, que é a visão.
Como todos sabemos, quando um indivíduo sofre com algum tipo de deficiência,
aprende a desenvolver outros sentidos.
Helen, impedida de ver, escolheu sentir.
Ela não via o mar, sentia; Não via a luz do sol, sentia seu calor; Não pode ver as folhas voando com o vento, mas sentiu seu cabelo esvoaçar com a brisa. Ela foi privada de coisas tão comuns, mas decidiu que sentir seria o meio mais próximo para chegar até a realidade.

Quem sabe Helen tenha até absorvido, muito mais do que nós,
a essência de tudo. Em nenhum momento ela construiu suas relações afetivas
baseada em aparências superficiais. Ela precisava conectar-se com o outro.
Sentir que o que havia era sincero e recíproco.
Helen Keller era verdadeira, como todos os que se disponibilizam a sentir são.
Se ela tivesse três dias de visão, usufruiria de diversas atividades consideradas
normais. Porque Helen sonhava com o que nós nem valorizamos mais.

Dessa forma, todo o conteúdo do texto, todas as palavras utilizadas por Helen,
e todo sentimento que ela demonstrou ao escrever, me trouxeram inúmeras indagações a respeito do que eu faria se tivesse apenas três dias de visão.
Cheguei em tantas respostas. Tantos sonhos.
Mas, por pelo menos algum momento, queria apenas sentir, sem precisar ver,
assim como Helen faz todos os seus dias.
Ama o que sente. E isso lhe basta.





segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Caio, ainda bem que você sempre soube

Quando li este conto do Caio, me senti invadida por um turbilhão de emoções.
Foi como se ele soubesse exatamente de tudo. Tudo.
Há sempre tantas coisas à serem ditas, mas no atual momento, estou silenciando.
Dei minha última investida naquele dia, em que tentei lhe falar sobre o que havia aqui dentro.
Depois disso, não existiu mais nenhum contato. Acho que é isso que nos resta.
Ainda existes de uma forma muito intensa em minha vida.
Fico aguardando quem sabe, pela sua futura volta.
O que começa a mudar é a minha resposta. Eu realmente não sei mais se quero continuar.
A certeza está dando espaço à duvida. E você, absorto como vive, nem deve estar percebendo.
Tudo bem, não necessito mais da sua irrestrita atenção.
Assim como mudam às estações, mudam às pessoas. E hoje eu sei que é sempre assim.





Com vocês, o que existe de melhor: Caio Fernando Abreu

Para uma avenca partindo ( CFA)

"Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer,
dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente em nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ............................................................................
.........................................................................................................................................
sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê."




Sempre sobram palavras quando o fim domina o que ainda restava.
E agora, não há mais nada a fazer. O que tinha que ser dito, foi dito.
O resto, precisa passar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Carta 1

Eis-me aqui, cabeça baixa, dia lindo: sol.
Presa dentro de casa, cansada demais pra tudo.
Todas as palavras estão aqui, estão prontas, estão me matando.

- Senhor, como é possível enlouquecer tão facilmente? - me pergunto.
Sei de todas as respostas, mas resolvo esconder. Hoje dói menos. Amanhã? Nem sei.
Então, num acesso de coragem, me vejo com a caneta, o papel e as lágrimas.

Escrevo a derradeira. Aquela que eu vivo dizendo que será a última. O ponto final dentro de uma história que até agora só me mostrou vírgulas e parágrafos incompletos.
Se vais ler, não sei. Se vou mandar, pode ser. Se vai gostar, não quero saber.

Ultimamente, para qualquer indagação que sofro, respondo como alguém que não sabe mais se vive aqui, ou em algum lugar escuro, quem sabe seu sótão particular, um mundo que criou a fim de tentar se encontrar, se sentir alguém, mesmo sem nem saber o por quê.

O comum seria começar dizendo o quanto me fez bem.
Mas nada do que aconteceu aqui, um dia foi comum. Então começo dizendo o quanto eu mesma me fiz mal, a partir do momento em que te coloquei como o foco de um rumo já desalinhado.

Buscava em ti proteção, carinho e afeto. Mas esqueci que a fonte, deveria vir primeiramente de mim, para que você apenas pudesse completá-la. Nada de excessos, nem extremos.

Sempre quis tão pouco, e foi exatamente por isso que parecia exigente demais.

Se pudesse traduzir o seu significado em minha vida, usaria palavras como surpreendente, inovador, belo, perigoso... Mas para que tentar descobrir o quanto você significou em mim sabendo que uma simples conclusão só faria aumentar a dor?

É isso. Não quero entender porque chegou, porque me ganhou, porque marcou de uma forma como nunca alguém havia feito, e muito menos, porque a nossa história não teve continuidade.
Não quero números, não quero quantidade, não quero nem recordações.

Acho que hoje, tudo em mim está tão pequeno, está tão fechado, está tão cansado, que nem a sua volta mudaria o que ainda resta por aqui.

Sim, não sou egoísta. Sei que em você também doeu, porque algum dia percebi que signifiquei algo, mas as impossibilidades que rondam a minha vida, bateram à sua porta e deixaram marcas, que acabaram afastando cada vez mais, um indício de amor que talvez você alimentasse.

É, eu sei. Você é um ser humano. Pode amar, já deve ter amado, já deve ter sofrido, sei que sim.
Sei que acreditou nos meus sentimentos. Sei da felicidade que sentiu e também do medo, da dor e da raiva que alimentou quando tudo aconteceu.

E se hoje, olhasse em seus olhos, pediria desculpas, como fiz naquela fatídica tarde de domingo, dia de sol, onde tive a certeza de que eu queria você e nada mais.

Hoje penso em você, como alguém que me ensinou tanta coisa, através da dor e do amor.
Porque aprendi que na dor se sente mais, se afunda mais, a volta é mais dura, a vida não é mais tão colorida e você mesmo, aprende que cair sempre te faz levantar mais forte.

Não quero mentir pra você. Acho que era isso que mais gostava em nossa história. Eu poderia ser sincera e você aceitaria a mim mesma, como sou. Sem estereótipos, sem máscaras, sem essa exigência de criar uma nova personalidade. Desnudada, sem nenhum artifício, eu, somente eu, você, somente você.

Hoje aqui, sinto sua falta. Mas não quero mais nenhum laço.
Chega uma hora em que a gente percebe que o amor acaba, e a vida precisa seguir.
Do que adianta manter uma história, onde me vês como uma amiga, e eu lhe quero como algo que não consigo definir exatamente?

Racionalmente falando, amar era algo distante pra mim.
Paixõezinhas, dessas de amigo da escola, eu já tive. Acho que todo mundo teve. Quem sabe até você. É, isso é mais uma coisa que desconheço em sua vida. Quem sabe, se tivéssemos dado uma chance a nós mesmos, as coisas poderiam ser diferentes.

Era pra ser uma carta curta, era pra ser a última, era pra ser bonita, era pra ser tanta coisa, assim como a gente também era pra ser...
Mas eu errei de novo, quem sabe você também tenha errado.
E o silêncio hoje, será melhor do que tentar consertar tudo isso.

Te amei. Nunca te disse.Presumi que você soubesse. Mas hoje sei que às vezes até o óbvio precisa ser dito claramente. Me desculpe, estou aprendendo a conhecer isso que chamam de amor.

Se me amou? Não sei. Quem sabe. Talvez. Isso importa?

Sei que não será a última carta, nem a última lágrima, porque ainda sinto sua presença aqui.
Dói suportar o silêncio que está se transpondo entre nós.
Mas as palavras, estavam doendo mais ainda.

Sigo o rumo, como alguém normal, que comete seus erros, cai e depois levanta.
Se desaprovas minhas ações, eu não sei.
Se acredita em minhas palavras, espero que sim.

Desaprovo algumas de suas atitudes, mas não te cobro nada.
Atrás de toda atitude humana, existe muito mais do que um simples motivo.
E eu sei que você é muito mais do que demonstra ser.


Está dito. Haveria muito mais à dizer. Mas a dor começa a latejar mais intensamente.
Preciso me recolher. O meu sótão me espera.

Adeus.? Até logo? Até breve?
Se alguém souber qual é a maneira menos dolorida de partir, por favor, me diga.
Porque hoje dói. Meu Deus, como dói.


Vou sentir sua falta.
Mas você me ensinou que a vida sempre segue, e nem sempre podemos ter o que queremos.
Obrigado, era exatamente isso que faltava para que eu pudesse, finalmente, partir.





"Guarde o melhor de mim,
que no meu peito eu vou te guardar
Vai ser melhor assim
vai ser melhor pra mim
Um dia a gente vai se perdoar"
(LS Jack)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A vida está aqui

Depois de vários meses sem uma postagem considerada racional,
resolvi postar minha redação feita no vestibular da Unisinos, (2010/2).
A proposta estava engajada em dois temas distintos:
1 - "Você acredita que os reality shows podem trazer ensinamentos positivos
ao público que assiste a eles?" Fundamente sua tese em argumentos consistentes.
2 - "Qual a sua posição em relação às terapias alternativas?"
Fundamente sua tese em argumentos consistentes.
Optei pela primeira opção, porque confesso que não possuía nenhum tipo de argumento consistente em relação à terapias alternativas.
Acho que deveria me esforçar mais. É.
Peço perdão se a redação não puder se enquadrar em algo satisfatório,
mas foi o que consegui apresentar naquele momento, meio tenso,
mas significativo em grande escala dentro da minha vida.
Então, vamos ao começo...

Durante muito tempo, a televisão foi um aparelho eletrônico
destinado a minoria da população.
Antes dela, o diálogo ganhava mais espaço e mais cor
dentro da vida de cada um.
Com a chegada deste meio de comunicação, a festa estava programada
com base na grade de programações de um determinado canal.
Reunia-se a família e ao apertar de um botão,
nossos olhos se enchiam com a 'melhor imagem'.
Assim como a televisão foi fruto da evolução e do progresso,
sua programação também deveria evoluir gradativamente.
Haveria de ter algo que pudesse fazer com que às pessoas
se identificassem cada vez mais com este meio.
Foi então, que eles surgiram:
Reality shows, sejam bem-vindos à minha casa.
A realidade humana vigiada por inúmeras câmeras.
A vida alheia ao alcance de um clique.
Horas e horas observando a convivência diária
de pessoas totalmente desconhecidas.
Parece meio sem sentido. Mas acreditem, para muitos não é.
Assistir a uma nova realidade faz com que a grande maioria da população,
por pelo menos algum momento, esqueça da sua própria vida real.
Problemas, transtornos, fracassos e perdas saem do foco principal.
Deixamos de acreditar que somente nossa vida parece seguir sem razão de ser.
É uma fuga do cotidiano e do real impiedoso que às vezes nos é imposto.
Por momentos não nos sentimos tão deslocados
como nos encontramos no mundo lá fora.
Porém o detalhe principal, que muita vezes é ignorado,
é que realitys shows tem um início, um meio e um fim
programado antecipadamente.
As situações vividas dentro deste tipo de programa
podem sim ser comparadas com a vida real.
Mas elas tem data, hora e local para acabar.
Muito diferente do que vivemos aqui, no mundo atual.
Dessa maneira, deveríamos compactuar com a idéia
de que ficar horas e horas assistindo a vida alheia pode
nos fazer esquecer um pouco deste mundo louco,
mas não vai mudar a nossa realidade.
Nossa vida está onde nós estamos.
E sua chance de ser selecionado para algum reality show
é realmente muito pequena, comparada a chance
que você tem de viver em seu próprio mundo.
Então viva aqui.
Com certeza é isso que merece fazer parte
da sua grade de programação.






Se hoje tivesse a oportunidade de escrever a mesma
redação novamente, com certeza diversas mudanças seriam feitas.
Mas o momento era aquele. E eu, era aquele momento.
Então, foi o conjunto de tudo isso que me guiou até onde pude ir.






sábado, 28 de agosto de 2010

Por favor, volte

E os dias, sempre iguais, continuam.
E aquela vontade de mudar, onde se perdeu?
Um dia quis ser especial.
No outro quis mudar o mundo.
Depois tentou fazer algo melhor.
Mas hoje, não há mais nada.
Ela segue a linha do convencional sem ânsia nenhuma.
Os dias estão pesando e a solução está no quarto escuro.
A pressão faz um giro de 360º ao seu redor.
E ela, perdida como está, apenas cai, se encolhe, sempre mais e mais.
O que antes era fácil, agora já parece difícil.
E o tempo, apesar de tudo, ainda pára naquele instante.
Às vezes é somente o que já passou que lhe faz bem.
E o arrependimento por ter deixado de lutar a consome.
E se...?
Reticências são o que sobrou de algo que ela não soube ter.
Então assim é o hoje, que vai se misturar com o amanhã
e se perderá no futuro, esperando que algum dia ela
encontre o seu lugar.
Afinal, perder-se nem sempre é um caminho.
Ainda mais, quando a solidão não satisfaz mais tudo que é necessário.









"Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs.
Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi.
Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando.
Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente,
se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita.
Se houve, eu não lembro.
Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando.
Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito.
Sem se importarem se eu não queria mais ir.
Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui.
Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando pra acontecer.
O problema é que essa coisa talvez dependa de outra pessoa para começar a acontecer.
Toque nela com cuidado - ele disse - Senão ela foge.
- A coisa ou a pessoa?
- As duas."

(CFA)


sábado, 14 de agosto de 2010

Palavras ao vento

Hoje palavras ao vento surgiram em meu caminho.
Foram tão simples, mas tão raras.
E aquele turbilhão que eu acreditava estar adormecido,
mostrou às caras novamente.
Se tudo que ouvi hoje for baseado em sentimentos reais, vai doer.
Vai doer saber que o que nos separa foi tudo que aconteceu
naquela noite fatídica, onde o que deveria ter predominado era o amor,
mas apenas existiram indícios de um caminho nebuloso pela frente.
E este caminho se estendeu por mais algum tempo.
Até que o que era óbvio, aconteceu.
Apesar de doer como doem todas as perdas, eu renunciei
a todas as formas de futuro que poderiam surgir.
Não renunciei por acreditar que a luta estava perdida,
mas sim por saber que estava sozinha nesta empreitada.
E um objetivo desse feitio, só pode ser alcançado
com esforços conjuntos de ambas às partes.
A partir de então, seguimos nossos rumos como a vida nos exige.
O problema é que possuo uma incrível inclinação
à procurar indícios onde não há.
Dessa minha dita peculiar característica, trago momentos bons e ruins.
Bons são aqueles onde posso acreditar que dentro
de um ser humano existe o mais belo dos conteúdos, desde que
o observador saiba atingir o ponto-chave.
E ruins, são os mesmos, porque eu sempre acho
que existe este dito conteúdo. E sempre não é real.
Quantas vezes escondi a realidade, buscando desculpas
que pudessem satisfazer o que eu queria que acontecesse?
Quantas vezes me auto-enganei, acreditando
que um deslize não era cometido de má fé, mas sim porque
às emoções do próximo estavam confusas?
Me diga quantas vezes você se encontrou nesse meio?
Somos todos assim. Hoje, amanhã e sempre.
Nos enganamos para tentar evitar a pior verdade.
Lembranças de momentos ruins são excluídas, afinal
elas pesam na consciência e podem atrapalhar o que
seria a nossa felicidade.
Queremos esconder tudo de ruim, porque nossa urgência emocional
soa um alerta dizendo que a solidão não é boa companhia.
Descobrir que um sonho acabou nunca é fácil.
Abre sulcos grandiosos na nossa arte de sentir.
Requer tempo até que exista uma volta.
Mas com certeza dói menos do que se enganar.
Acreditar que amanhã ele ou ela vão voltar.
Que amanhã, o casamento vai renascer.
Que amanhã, o perdão vai surgir.
Que amanhã, o amor vai estar ali.
Amanhã, que fica para amanhã, para depois de amanhã
e assim sucessivamente, num ciclo que ao invés de nos trazer vida,
nos traz a morte e uma dependência afetiva cruel e devastadora.
Eu sei que dói admitir que ela não o ama, ou que ele
não quer ser seu namorado.
Dói saber que é por outra pessoa que seu coração bate.
Mas cultivar palavras ao vento que podem não significar nada
pra quem às lança, é um meio muito pior
de sofrer a dor pela perda do amor.
Precisamos estar cientes de que quando existe o amor, não há meios
que o impeçam de acontecer.
Tudo é válido quando queremos dividir tudo que nos move.
Então se às desculpas são maiores do que a luta necessária
para a consolidação de um sentimento, não piore as coisas.
Insista até perceber que existe algum tipo de insistência
vinda do outro lado.
Mas se não houver, saia dignamente de cena.
Nunca é fácil. Recaídas com certeza são constantes.
Mas aprenda que o amor, quando é amor,
acontece mesmo, apesar de tudo e de todos.
Hoje, adoraria acreditar em tudo que ouvi.
Quem sabe um dia, quem sabe exista verdade...
Mas precisa ser real, caso o contrário não vinga mais.










Só um lembrete: se for real, por favor não deixe
que o tempo leve o pouco que ainda existe aqui.








terça-feira, 10 de agosto de 2010

Vida louca

Hoje foi um dia 'daqueles'.
Acordei como de praxe com uma louca vontade de decepar minha cabeça,
afinal estas pontadas estavam acabando com
a minha dita funcionalidade normal.
A solução está programada para quinta-feira, no período da tarde:
finalmente, a confecção dos meus sonhados óculos.
Mas, voltando ao rumo que já se perdeu mais uma vez...
Depois de levantar às 6:30 da manhã,
tomar meu café extra-forte na inútil esperança de espantar o frio, e então,
quase sem coragem, colocar a cara amassada e todo o resto para fora de casa
a fim de ir ao encontro dos meus nenês, tive aquela estranha sensação
de que hoje tudo iria acontecer.
Dito e feito.
Cheguei na casa da , já quentinha pelo fogo aceso no fogão a lenha,
como se fosse um convite à algo aconchegador,
abri o jornal e já senti aquela habitual desesperança em nosso cotidiano.
Matar a namorada, a esposa, a amante, o filho, a família completa
e depois cometer suicídio ou, na pior das hipóteses,
apenas apresentar aquela cara de 'não sou o culpado',
ou 'minha infância foi muito turbulenta, dessa forma
meu lado psicológico nunca se desenvolveu corretamente', está virando moda.
É normal como acordar todos os dias.
Dentro da nossa rotina sempre há: fulano matou esse,
ciclano acabou com seus problemas, o amor se tornou obsessivo...
Meus Deus, onde nós estamos?
Em que ponto nos permitimos chegar?
A crueldade e a frieza são características que
todos os seres humanos possuem, mas em alguns,
elas se desenvolvem de uma maneira tão drástica,
que quase chegam aos patamares da utopia.
Os acontecimentos dos últimos meses me levaram a sérias indagações
e infelizmente, tristes conclusões.
Como podem amar tão obsessivamente ao ponto de matar
caso o relacionamento não vigore?
Como permitem que uma relação se encaminhe pelo caminho do ódio,
das ofensas, da violência física e psicológica
e não se desprendem desse mal, antes que seja tarde?
Como fazem as maiores juras de amor, sabendo que são
apenas discursos decorados? Em nenhum momento avaliam a situação
de quem ouve estas juras?
Como podem afirmar com convicção que amam, quando dias depois
assassinam com tamanha crueldade e frieza?
É realmente lastimável ver que tudo isto está na essência
de milhares e milhares de relacionamentos conturbados,
onde a dependência afetiva está acima de todos os níveis aceitáveis.
Mas, ainda mais lastimável é a forma como estes casos vem à tona.
A mídia os explora loucamente, em busca de um ibope constante.
São horas e horas de noticiários, onde a perplexidade toma conta
de todos os espectadores que não conseguem compreender
como alguém pode usar de tais artifícios para terminar uma relação.
Ou quem sabe, ainda há aqueles que prevendo o término de seu relacionamento,
já encontram um meio de realizá-lo sem que existam vestígios.
É horrível assimilar essa idéia, mas desde que todos estes escândalos surgiram,
é como se a vida real e as emoções fossem substituídas
por aqueles filmes de carnificina viva.
Depois das página do dito cujo jornal, concluí que, sim:
Meu dia seria pior do que eu imaginava.
Está praticamente tudo perdido.
Não há mais como acreditar em tudo que se vê e ouve,
porque a cada dia percebo que esta vida louca
não pede nada de nós, ela exige.
E se ver diante de fatos drásticos como os que acabo de ler, me faz pensar
que sentir não vale mais absolutamente nada, para a maioria das pessoas.
Meu texto pode estar cheio de amargura e de desesperança,
mas é o que há para hoje.
A única recompensa do dia (porque sempre dizem que existe uma),
foi a ida ao dentista com a minha pequena Giovanna.
É tão gratificante saber que ela se sente segura
ao poder entrelaçar seus dedos nos meus, e dessa forma
criar coragem para abrir o 'bocão de jacaré',
já treinado previamente em casa,
a fim de que a dentista pudesse realizar os devidos cuidados.
Minha Giovanna... ainda bem que você ainda pode viver nesse mundo bom,
onde os problemas reais estão concentrados no medo do dentista
e na proibição do chocolate de cada dia.
Hoje, seu sorriso foi o único resquício que me fez continuar acreditando
que o amor sincero ainda existe.
Acho que hoje a sessão de terapia vai render, como há muito não rendia...




PS: recomendo a leitura do jornal, somente quando você não pressentir
que o seu dia será um lixo.
Pelo menos você evita mais uma triste decepção.


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Escute Garota

Ela se pergunta todos os dias porque se encontra nesta situação.
Se pergunta por que sentir é tão importante em sua essência.
Tenta avaliar situações diferentes da sua
e encontrar mais alguém que se sinta tão deslocado quanto ela.
E nessa busca, ela encontrou milhares de pessoas
que ainda procuravam seu sentido no mundo,
mas nenhuma delas seguiu o mesmo caminho que o seu.
Porque compreender que diferenças existem é tão complicado?
Ela acredita que o problema não se encontra nas diferenças
e sim no medo que ela sente de encontrar-se dentro delas.
Ah, o medo.
Como acompanha a sua caminhada.
Medo de decepcionar aqueles que exigem muito dela.
Medo de decepcionar a si mesma.
Porque sim, ela sabe que exige muito dela.
Profissionais da área já afirmaram que ela precisa aceitar suas imperfeições.
Ela não quer esconder suas fraquezas.
Pelo contrário, às demonstra até em horas inadequadas.
Mas então, que medo é esse de falhar?
Que dor estranha a atormenta toda vez que ela sente que o fracasso a ronda?
Talvez os últimos anos tenham trazido tantas responsabilidades
que a simples iminência de uma derrota, faz com que ela tenha medo
de não conseguir proteger aqueles que tanto precisam dela.
E nessa constante proteção aos outros,
esqueceu de proteger a si mesma.
Acabou se isolando, fugindo de certas emoções,
como se tivesse medo de deixar alguém chegar ao principal.
Não que seja de ferro ou intransponível.
Houve alguém que chegou onde ela se escondia.
Alguém que soube buscar o seu melhor e que mereceu recebê-lo.
Mas infelizmente fatores maiores do que os dois,
acabaram anunciando um final premeditado.
Depois disso, escondeu-se de si mesma.
Por vários dias, procurou o quarto escuro para tentar esquecer
que mais uma vez, suas apostas a levaram ao caminho errado.
E desde lá, segue intercalando momentos de pura ambigüidade.
Está feliz sendo triste.
Paradoxo que a acompanha constantemente.
Sua felicidade não requer amplos sorrisos,
nem gargalhadas estridentes, ou festejos alucinados.
Ela decidiu que sua felicidade estaria na página de um livro,
num abraço de uma criança ou no sabor de uma palavra.
Escolheu viver dentro de si, para que pudesse
entender o que significa sentir.
E por inúmeros momentos, teve vontade de desistir.
De se revoltar com tudo e com todos.
Cansou de cair e ter que levantar sem poder fazer ruídos.
Queria que alguém olhasse pra ela e percebesse o quanto estava cansada,
e como num filme com final feliz, a erguesse mais uma vez.
Mas a muralha já estava lá. Instalada firmemente,
criando obstáculos quase que intransponíveis
para aqueles que tentavam atravessá-la.
Houveram dias em que ela se libertou.
Abriu a porta e deixou que novos ares a penetrassem.
Mas ao primeiro vento forte, fechou-a novamente.
E hoje, ela continua da mesma forma, mas totalmente diferente.
Está buscando uma frestinha de luz.
Está olhando para o futuro, com possibilidades reais.
Em alguns pontos, segue vivendo sentimentos do passado.
Mas não tenta mais expulsá-los.
Ela compreendeu que a mesma dificuldade que encontra
em deixar às pessoas entrarem em sua vida,
está instalada na hora em que elas precisam partir.
Dói na chegada, porque o medo atormenta.
Dói na partida, porque a saudade sufoca.
E por que tudo precisa ser assim?
Porque ela é assim.
E ser, será sempre eterno,
até a hora em que ela decidir mudar, mais uma vez.


domingo, 25 de julho de 2010

Interferência perigosa

'Meu pai tinha poder sobre todas às minhas decisões.
Não haveria nenhuma mudança em meu cronograma (programado por ele, é claro)
se ele não estivesse de acordo.
Ele chegou aos extremos.
Quando me apaixonei, simplesmente me obrigou a esquecer.
Naquele instante, tudo que havia entre nós dois foi cortado.
Não há mais nada que nos sustente.
O abismo apenas cresce. Eu de um lado, Ele do outro.'

Essa história poderia ter um final diferente.
O enorme silêncio que se transpõe entre os dois,
só é cortado quando ele grita, excessivamente, com ela.
Ela não possui mais forças. O único som que emite, é o de suas lágrimas.
Tudo poderia ser diferente, se o seu pai não interferisse a todo momento,
em praticamente todas às suas decisões e escolhas.
Como alguém pode se tornar auto-suficiente e acreditar em seu potencial,
quando seu próprio pai recrimina toda nova tentativa e todas às escolhas que ela segue?
É preciso estabelecer certos limites: ela aceita e está disposta a ouvir suas opiniões,
contanto que você não a obrigue a segui-las, sem que ela possa informar
qual é o caminho que realmente quer trilhar.
Geralmente, acreditamos que interferindo nas decisões,
e

stamos resguardando nossos filhos de todos os perigos.

Mas ao mesmo tempo, estamos impedindo-os de criar uma personalidade própria
e estabelecer sua auto-suficiência de idéias e opiniões.

Sim, eles são seus filhos. Estão sob seus domínios.
É necessário criar regras. Mas deixe-os se expressarem também.

A liberdade de tomar decisões e fazer escolhas molda-os para que no futuro,
possam ser adultos seguros e confiantes.

Cada um é responsável por suas escolhas e à medida que amadurecemos,
percebemos também que nossas escolhas,
por menores que sejam, vão ter uma conseqüência.

Um pequeno exemplo seria uma interferência invadindo nosso sinal de televisão.

Devemos avaliar se há algum dano em nossa antena, e tentar consertar o problema,
mas depois disso, a imagem segue livre, sozinha.
Você pode até trocar de canal, mas interferir em seu curso, não.

É um exemplo fugaz, mas muito válido.

Seus filhos vão crescer e quanto mais liberdade de escolha você der à eles,
mais seguros eles vão se sentir.

Mostre à eles o começo do caminho, explique sobre eventuais desvios, subidas e descidas,
mas não interfira se, por escolha própria,
não o seguirem do mesmo modo que você seguiria.

Eles são seus filhos. Mesmos genes, mesmo DNA.
Mão não são você.

Interfira enxugando lágrimas.
Interfira dando abraços e demonstrando carinho.

Mostre atalhos.
Auxilie nas quedas. Compartilhe sorrisos nas vitórias.
Assim a liberdade flui ao natural, sem nenhum chiado, ou seguidas trocas de canal.




Pense de novo e converse comigo
Eu cresci de acordo com seus planos ?
Você acha que eu estou perdendo meu tempo
fazendo as coisas que eu quero fazer ?
Mas dói quando você desaprova tudo ♪
(Simple Plan - Perfect)