Não sei você, mas eu tenho Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, que me deixa frágil em determinados momentos. Nos últimos tempos, ela aparece sempre quando decido sair com os amigos.
Os dias que antecedem o programa marcado, são de bastante euforia. É um clima bom, um sentimento de felicidade por poder dividir determinados momentos com pessoas importantes. Mas quando a noite chega, ela chega também.
O começo da festa é tranquilo. Danço, apesar de ter plena consciência de que meu corpo não foi feito pra isso. Sou travada e isso é fato. Depois de um tempo, quando menos espero, ela se apresenta. Essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É me assola com um desânimo que aperta, que dói, que me encolhe, me esconde. Às vezes penso que descobri o quão cruel a saudade pode ser. Ainda mais em mim, onde habita todos os recintos, principalmente os quartos mais escuros, onde constantemente me escondo.
Pois bem, deixe-me explicar melhor. Acredito que essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, esteve sempre dentro de mim. A diferença é que de uns tempos pra cá, ela tem se desenvolvido mais livremente. Ou eu não tenho mais controle sobre ela, ou ela já me controla totalmente há muito tempo.
Sair com os amigos sempre era um programa muito prazeroso. Às músicas tinham um belo sentido e o sorriso era uma companhia natural. E você - ou melhor, ele - nem existia naquela época ainda.
Nunca busquei uma festa com os amigos apenas esperando encontrar e desfrutar da tua presença. Confesso que este bônus sempre era bem recebido, mas naquela época não percebia que isto só alimentava ainda mais o crescimento desta Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É.
Na primeira noite em que nos encontramos depois de tudo que houve, onde pela primeira vez eu soube que sua presença seria real, mas longe da minha, descobri que essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, começava a cortar e latejar mais fundo.
Aquela solidão pesava tanto que, mesmo ao redor de diversas pessoas, me sentia totalmente sozinha. Naqueles instantes descobri pela primeira vez que o que começava a faltar não estava ao alcance dos olhos. Existia também uma quantidade torrencial de lágrimas que insistiam em aparecer. Eu me esforçava, às escondia, relutava para que não surgissem, mas ao simples olhar dos amigos, porque eles sempre sabem quando há algo que machuca por dentro, lá estavam elas. Nunca deixei que fluíssem na tua frente. Não por uma questão de orgulho, mas por saber que não eras tu o único culpado por este estranho vazio que se instalava aqui dentro.
Em algumas raras exceções, transcorri a noite inteira sem em nenhum momento notar a presença dessa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É. Hoje vejo que estas noites sempre ocorriam quando tinha ao meu lado, por pelo menos aquele momento, tua companhia. Estava caindo em um poço escuro, onde minha ânsia me cegava cada vez mais. Me escondia em minhas próprias expectativas, sendo tola ao esperar que virias me resgatar deste lugar que eu mesma havia criado.
Nos últimos tempos onde, com toda força que me resta, insisto e abro todas as janelas para que o sol reine sobre as sombras, começo a cultivar a mudança em minha vida. Não por querer apagar teu rastro em meu caminho, mas por encarar toda mudança como um ganho. Nunca uma perda. Nem minha nem tua. Mas sim um acréscimo de novas e velhas partes de mim mesma, para mim mesma.
Já existe um tipo de saldo positivo. Novos empregos. E dois de uma vez só. Meu dia começa a receber de presente um novo cronograma. A aprovação no vestibular me estimula ainda mais, para que no próximo semestre meu foco esteja centrado na arte de estudar o que todos tem medo de sentir.
Essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, continua aqui. Eventualmente dói. E dói fundo.
Nessas horas, costumo me lembrar dos nossos primeiros encontros. Do nascimento de uma coisa que eu também não sabia o que era. A diferença entre a de ontem e a de hoje, é a maneira como às aceito e cultivo em minha vida.
Era uma necessidade que passou a ser falta.
Às vezes penso que era amor. E quando penso, choro. E quando choro, abro as feridas. E enquanto permito que elas mostrem o rosto, não quero me martirizar.
Quero apenas que elas se esgotem. Que exalem toda dor que guardam em si. Para que a vida, uma hora ou outra, possa seguir em frente.
Sobre essa Uma-Coisa-Que-Eu-Não-Sei-Bem-O-Que-É, não tenho definições nem conceitos estabelecidos. Às vezes aparece, às vezes some. Só sei que estou lutando para que essa ambiguidade não destrua tudo de sólido que um dia eu já possuí.
A dor passa quando acreditamos que somos sim, suficientemente capazes de continuar o caminho que nos espera. Nunca totalmente imunes à ela, porque a dor se faz presente para não nos deixar esquecer.
Mas ao menos, livres de uma saudade que massacra muito mais do que qualquer perda que fique pelo caminho.