Hoje foi um dia 'daqueles'.
Acordei como de praxe com uma louca vontade de decepar minha cabeça,
afinal estas pontadas estavam acabando com
a minha dita funcionalidade normal.
A solução está programada para quinta-feira, no período da tarde:
finalmente, a confecção dos meus sonhados óculos.
Mas, voltando ao rumo que já se perdeu mais uma vez...
Depois de levantar às 6:30 da manhã,
tomar meu café extra-forte na inútil esperança de espantar o frio, e então,
quase sem coragem, colocar a cara amassada e todo o resto para fora de casa
a fim de ir ao encontro dos meus nenês, tive aquela estranha sensação
de que hoje tudo iria acontecer.
Dito e feito.
Cheguei na casa da vó, já quentinha pelo fogo aceso no fogão a lenha,
como se fosse um convite à algo aconchegador,
abri o jornal e já senti aquela habitual desesperança em nosso cotidiano.
Matar a namorada, a esposa, a amante, o filho, a família completa
e depois cometer suicídio ou, na pior das hipóteses,
apenas apresentar aquela cara de 'não sou o culpado',
ou 'minha infância foi muito turbulenta, dessa forma
meu lado psicológico nunca se desenvolveu corretamente', está virando moda.
É normal como acordar todos os dias.
Dentro da nossa rotina sempre há: fulano matou esse,
ciclano acabou com seus problemas, o amor se tornou obsessivo...
Meus Deus, onde nós estamos?
Em que ponto nos permitimos chegar?
A crueldade e a frieza são características que
todos os seres humanos possuem, mas em alguns,
elas se desenvolvem de uma maneira tão drástica,
que quase chegam aos patamares da utopia.
Os acontecimentos dos últimos meses me levaram a sérias indagações
e infelizmente, tristes conclusões.
Como podem amar tão obsessivamente ao ponto de matar
caso o relacionamento não vigore?
Como permitem que uma relação se encaminhe pelo caminho do ódio,
das ofensas, da violência física e psicológica
e não se desprendem desse mal, antes que seja tarde?
Como fazem as maiores juras de amor, sabendo que são
apenas discursos decorados? Em nenhum momento avaliam a situação
de quem ouve estas juras?
Como podem afirmar com convicção que amam, quando dias depois
assassinam com tamanha crueldade e frieza?
É realmente lastimável ver que tudo isto está na essência
de milhares e milhares de relacionamentos conturbados,
onde a dependência afetiva está acima de todos os níveis aceitáveis.
Mas, ainda mais lastimável é a forma como estes casos vem à tona.
A mídia os explora loucamente, em busca de um ibope constante.
São horas e horas de noticiários, onde a perplexidade toma conta
de todos os espectadores que não conseguem compreender
como alguém pode usar de tais artifícios para terminar uma relação.
Ou quem sabe, ainda há aqueles que prevendo o término de seu relacionamento,
já encontram um meio de realizá-lo sem que existam vestígios.
É horrível assimilar essa idéia, mas desde que todos estes escândalos surgiram,
é como se a vida real e as emoções fossem substituídas
por aqueles filmes de carnificina viva.
Depois das página do dito cujo jornal, concluí que, sim:
Meu dia seria pior do que eu imaginava.
Está praticamente tudo perdido.
Não há mais como acreditar em tudo que se vê e ouve,
porque a cada dia percebo que esta vida louca
não pede nada de nós, ela exige.
E se ver diante de fatos drásticos como os que acabo de ler, me faz pensar
que sentir não vale mais absolutamente nada, para a maioria das pessoas.
Meu texto pode estar cheio de amargura e de desesperança,
mas é o que há para hoje.
A única recompensa do dia (porque sempre dizem que existe uma),
foi a ida ao dentista com a minha pequena Giovanna.
É tão gratificante saber que ela se sente segura
ao poder entrelaçar seus dedos nos meus, e dessa forma
criar coragem para abrir o 'bocão de jacaré',
já treinado previamente em casa,
a fim de que a dentista pudesse realizar os devidos cuidados.
Minha Giovanna... ainda bem que você ainda pode viver nesse mundo bom,
onde os problemas reais estão concentrados no medo do dentista
e na proibição do chocolate de cada dia.
Hoje, seu sorriso foi o único resquício que me fez continuar acreditando
que o amor sincero ainda existe.
Acho que hoje a sessão de terapia vai render, como há muito não rendia...
PS: recomendo a leitura do jornal, somente quando você não pressentir
que o seu dia será um lixo.
Pelo menos você evita mais uma triste decepção.