sábado, 30 de outubro de 2010

Felizes para sempre, não.

Em minha infância, era comum ver minha mãe me contando aquelas lindas histórias infantis, com princesas, príncipes, castelos, bruxas e os 'felizes para sempre'.
Por um tempo, me satisfaziam aqueles enredos, afinal a certeza de um final feliz me confortava.

Com o passar dos anos, o natural aconteceu, e meu foco mudou. Sempre tive o hábito da leitura e vou carregá-lo comigo até o último instante, mas aquela velha história do 'felizes para sempre' já não completava mais o espaço que me faltava.
Era preciso que algo diferente, como uma mudança nesse cronograma já conhecido, acontecesse.
Não queria uma certeza sobre o final, mas sim a surpresa de ver até aonde a vida, e somente ela, poderia conduzir determinada história.

Talvez naquele momento, eu já começasse a ensaiar os primeiros passos para fora do bando. Não tinha a pretensão de me sobressair ou de inferiorizar aos demais. Eu só não gostava, nem vou gostar nunca, dessa coisa de que tudo precisa ser igual, pra todo mundo, Eu não era, nem sou melhor. Só um pouco diferente.

Os primeiros anos da escola foram tranquilos, pelo menos é assim que lembro deles. Fui sim, uma criança ativa, mas sem nenhum exagero. Tinha ciúmes dos meus amigos e dos meus brinquedos, mas o maior de todos, era com os os meus livros. Eles sempre foram uma parte fundamental, como um representação minha, então era perigoso aos meus olhos deixar que alguém assim os invadisse.
Nunca gostei do rosa. Eu era apaixonada por azul e assim segue sendo. Sem estereótipos sempre foi melhor.

Hoje, depois de algumas primaveras, leio absolutamente tudo que me faz bem naquele instante. Claro que me fixo mais em alguns gêneros e autores, porque existe sempre aquela cumplicidade silenciosa. Mas em inúmeros momentos, eu quero e preciso fugir daquela leitura habitual, e me permito experimentar o desconhecido, como que buscando algo que não precisa de um nome específico.

Mas bem, chegando ao propósito deste post, que segue meio confuso, assim como quem o escreve, me peguei pensando naquele 'felizes para sempre' que era tão bem pronunciado por minha mãe.
Um dia eu amei e cultivei essa realidade, afinal era disso que necessitava naquela idade onde se ama quase tudo sem um motivo ou um por que. 
E hoje, existem desejos distintos, desde encontrar alguém que ame, que traga plenitude, que odeie crises de choro, mas mesmo assim fique por perto. Que não compreenda o silêncio, mas assim o aceite e não o inunde com palavras infundadas, a fim de quebrar aquele clima estranho. E aliado à estes desejos, ainda está aquele que foi cultivado desde cedo: viver uma história sem um, ou dois, ou quantos forem, 'felizes para sempre', mas sim um felizes até que a vida e os dois, assim desejarem.

A nostalgia de relembrar aquelas velhas histórias infantis me trouxe um sentimento bom, mas não mudou minha concepção. Entre os últimos nascimentos do sol  e da lua, tenho vivido momentos que poderiam ser dignos destas histórias. Mas meu lado racional, que vem sendo exercitado a duras penas nos últimos anos, não permite que eu abra esse tipo de exceção.
Por favor, não me entenda mal. Não sou gélida, muito menos alguém incapaz de sonhar e apreciar momentos de felicidade. Mas eu prefiro que o início não dependa de um 'felizes pra sempre' para se tornar algo eterno.

Eterno para mim, é tudo aquilo que vai ser lembrado nos momentos mais impensados da nossa vida. É aquela sensação boa que pode te invadir quando você, por mero acaso, se deparar com uma lembrança, um som, uma música, ou uma palavra qualquer.

Se pudesse reviver determinados momentos, assim eu os faria.
Só que para eu me jogar do alto, sem medo da queda, com uma vontade imensa de apreciar o que aquele salto pode me proporcionar, eu preciso que a vida me mostre que tudo pode ser real.
Não há espaço para o que não faz meu coração vibrar. E hoje, depois de tudo, existe muito pouco disso. 

Quando algo surgir por aqui, eu sei que ele não vai precisar de um 'felizes para sempre', para ser exatamente tudo que eu sempre sonhei. O que me faz bem, não merece ter um prazo de validade, mesmo que este seja a eternidade dos dias. 

sábado, 23 de outubro de 2010

Um quase amor de verão

Em um dia qualquer, você se disponibiliza a aceitar um contato desconhecido.
Abre uma exceção, e não sabe nem bem o por quê.
Pensa consigo mesma: será apenas mais um papo trivial, coisa da vida moderna...

Inicia-se então a conversa. Aquele clichê inicial se estabelece.
Depois de uns tempos, a conversa toma rumos inesperados.
O papo flui livremente, e você nem percebe o tempo passando.
Antes de dormir, imersa em pensamentos, recorda que por um segundo pensou eu não aceitar nenhum tipo de exceção. Ainda bem que desconsiderou a ideia, por pelo menos um momento.

Dessa maneira, a conversa não era considerada uma obrigação. Acontecia em momentos providenciais.
Às vezes encontramos amigos assim, do nada, sem esperar. Acho que deveria ser sempre assim.
Expectativas nunca nos conduzem para o que realmente esperamos, então surpreender-se será sempre a melhor alternativa.

Alguns meses se passam e vocês se distanciam. Às conversas já não acontecem com tanta frequência, mas você nem liga muito, afinal desde que se conheceram tudo foi muito livre e assim seria melhor.
A vida seguia normalmente, como sempre deveria seguir.

A viagem programada há alguns meses, já estava se aproximando.
O destino previa lindas paisagens, incluindo o mar, seu refúgio e destino preferido.
Tudo seguia o rumo programado e a felicidade estava estampada em seu rosto.
As últimas conquistas haviam lhe trazido um novo olhar, uma nova esperança que antes estava perdida em algum lugar do quarto escuro.

Durante o passeio, alguns problemas ocorreram em seu meio de comunicação mais tradicional e por isso decidiu investigar a questão mais a fundo. Assim que conseguiu estabelecer sua conexão, escutou um chamado inesperado.
Assim do nada, depois de um longo silêncio entre os dois, recebeu um Oi, quanto tempo?

Se alguém lhe falasse que estava disposto a viajar de uma cidade à outra, num trajeto de quase duas horas, reservando um quarto de hotel para pernoitar, com a única e exclusiva vontade de te conhecer, você acreditaria?

E tem mais. Se ele conversasse com você olhando nos teus olhos, mostrando real interesse por tudo que você estava dizendo, mesmo que fosse uma bobagem cômica, causada pela ansiedade e pelo nervosismo, a fim de quebrar um clima de primeiro contato que se estabeleceu, e que depois ainda se mostrasse disposto a acordar antes das oito, em pleno sábado, para te acompanhar em uma caminhada matinal, perto do seu melhor refúgio: o mar.
Será que poderia ser real?

E se mais tarde, em mais uma surpresa, resolvesse ampliar sua estadia no hotel, a fim de te esperar depois de um passeio de estudos e assim que você chegasse, te levasse à um passeio e à um almoço, onde você ainda não consegue entender como o tempo passou tão, mas tão rápido. Ah, deve ser utopia, não é?

Nunca acreditou em contos de fadas, então porque isso deveria acontecer?  Ainda mais com ela, garota tímida onde o silêncio chega a transbordar, de tão evidente.

Hoje, ela conseguiu adquirir uma única certeza: abrir exceções sempre podem render uma boa história para contar. Sempre mesmo. E porque não, quem sabe, um quase amor de verão?

Hoje, ela já não duvida mais. A vida lhe ensinou a não duvidar. Só viver.
E se amanhã ela acordar e perceber que nada foi real, ela vai se contentar com as recordações.
Porque o primeiro quase amor de verão, a gente nunca esquece.



Foram momentos lindos. Obrigada por me tornar única naquele instante.
Me fez feliz, e isso eu vou guardar pra sempre.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O tal do dia

Cinco dias e chegam os 17 anos.
Dei pra pensar em tudo que houve e ainda existe por aqui.
Não gosto muito de estabelecer cronogramas, nem de criar metas fixas.
Prefiro chamar de sonhos. É assim que me conecto com às possibilidades do futuro.
Neste ano, decidi que não haverá confraternização entre amigos.
Nunca fui de grandes festas, nem nunca vou ser, mas sempre havia
uma mini-torta e alguns abraços à receber.
À medida em que o tempo passa, ficamos mais seletivos e não nos agradam mais os velhos costumes que achávamos já enraizados em nós. 
A mudança de idade, só reflete um número para preencher a regra social.
No dia em que encaro todos os problemas como alguém que não pode se abalar, tenho dentro de mim um ser com uma idade muito superior a minha.
Mas da mesma forma, no dia em que me encolho e só preciso do meu quarto escuro para sofrer a vontade, sinto como se uma criança ainda governasse essa vida imprevísivel.
E isso é unanimidade.
Todo mundo tem um pouco dessa junção de idades dentro de si.
Certos conceitos que eram fixos, estão sendo deixados para trás.
Não quero mais aquela dependência.
São quase dois anos lutando por algo sem sentido.
Chega um momento em que o foco muda e a vida segue.
Acho que chegou a minha vez.
Algumas dores antigas parecem descansar profundamente.
Outras surgem de uma maneira inesperada.
Entre chegadas e partidas, vou buscando o que há aqui dentro de mim.
Essa busca me conduz, me dá sentido, me alimenta.
Não sendo ingrata, tenho plena consciência de que vivi situações plenas e felizes, e de cada uma delas levo, com certeza, recordações eternas.
Os momentos ruins? Sempre existiram, sempre existirão. Mas hoje compreendo que eles me trouxeram um ganho incalculável, porque moldaram em mim uma estrutura mais forte, para que eventuais quedas e tropeços possam ser contornados com mais firmeza.
Hoje também percebo que nem todos à minha volta farão parte do meu futuro.
Isso também se encaixa nesse processo seletivo que realizamos no decorrer da vida. Já não tenho mais medo de abandonar àqueles que não acrescentam algo realmente significativo aos meus dias.
Dói concluir que algumas pessoas que te acompanharam desde o início não o fizeram por um amor recíproco. O que deveria ser uma relação sincera, de amizade e carinho, acaba por se resumir em sorrisos e palavras nem sempre sinceras.
O bom é perceber, que num momento inesperado, você conhece pessoas acima de todas as expectativas e as mantém firmemente dentro do seu círculo de amizades, afinal elas são realmente valiosas.
Essas, por maior que seja a distância, permanecem intactas para sempre.
No domingo, vou abrir os olhos e pensar: parabéns Muriel, você é uma garota de 17 anos.
Mas muito mais do que esse pensamento, vou desejar largar o que não cabe mais aqui.
Não é uma revolução. Só é uma limpeza necessária.
E uma vez feita, a vida pode seguir, até que a nova bagagem não tenha mais espaço para ocupar o que existe aqui dentro de mim.
Então eu volto e como sempre, começo tudo mais uma vez.








quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Apenas sentir

Tinha tudo para ser só mais uma terça-feira normal.
Acordar, tomar café, cuidar dos nenês, fazer almoço, lavar louça (é, vida doméstica), estudar, esperar o telefone tocar (porque ele precisa, muito, tocar), preparar-me pra escola e assim seguir, como o cotidiano exige.
Mas quando não se espera por mais nada, sempre existe algo a mais.

Na parte da manhã fui abençoada com a chegada de mais um ser especial.
Alguém que vai acrescentar mais sentido aos dias.
Betina se juntou aos meus nenês de uma forma tão encantadora que já conseguiu ganhar o meu coração. Tão carinhosa como é, com certeza irá aumentar ainda mais a dose de carinho que recebo pela manhã. Seja bem-vinda, minha nova menina. Seremos mais felizes juntas.

A tarde passou como um sopro, pois Betina ocupou a maior parte do meu
tempo. Me dei essa liberdade, de pelo menos por aquela tarde ignorar os
estudos para essa fase tão caótica de preparação ao Enem e ao vestibular.
Ser chamada de 'minha Mudi' pela Betina, foi extremamente bom.

De banho e café já tomados, segui rumo à escola.
O mesmo caminho percorrido por 11 anos. O mesmo visual e o mesmo rumo, mas que dependendo do dia, poderia sugerir novos atrativos, conforme eu estivesse disposta a imaginá-los.

Espanhol, inglês, sociologia e religião. Era esse o cronograma da noite.
Confesso que às terças sempre criam probabilidades muito grandes de uma possível falta ao colégio. Não que a matéria não me atraia.
Todo tipo de conhecimento é sempre positivo.
Mas existem fatores alheios que estão me puxando ao quarto escuro, e às terças
me trazem um dano escolar menor, caso eu decida me deixar levar ao fundo do poço.

Os três primeiros períodos foram entediantes, confesso.
Me gusta el español, pero yo no me sentía bien.
English? No.
Sociologia merece um crédito. A aula foi produtiva. O problema era eu.
Estava longe, longe, longe e nem sei aonde.
Então 21:00, recreio. Ainda bem. Sentia uma fome incontrolável.
Exagerei, passei dos limites. Quando na verdade até eu sabia que não era só aquela fome calórica que me consumia. Era uma fome além do explicável.

Então chegou meu último período de religião. Muitos foram os que já me questionaram se eu me incomodava com o fato de ser Luterana, enquanto os demais e até o próprio professor, eram Católicos. Bobagem. O que para mim é importante chama-se Deus, e o nome da igreja que o representa em questão, é só um detalhe. Sei que muitos não cultivam este hábito e eu assim
os respeito. Mas para mim Deus é importante e seguirá sempre em minha vida.

Nosso professor, há uma semana atrás, nos trouxe a seguinte proposta: em cada aula, um determinado grupo seria responsável por elaborar uma atividade e realizá-la com a turma.
O que era pra ser só mais uma aula normal, mudou a minha percepção sobre esse tipo de experiência. A mensagem distribuída por meus colegas, que organizaram a aula, dizia:
"Três Dias Para Ver - Helen Keller, com a seguinte pergunta:
- O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?"

- Uau, pensei! Deve ser mais uma daquelas mensagens que a gente recebe
em excesso pelo e-mail. Como sempre, essa primeira impressão que tiramos das coisas, fez com que eu me enganasse completamente. A mensagem era fantástica. Pelo menos para mim foi.
É muito relativo tentar expressar o que ela significou, porque isto vai depender diretamente da maneira com que ela vai atingir o seu leitor. Em mim acertou o alvo. Em cheio. Xeque-mate. Gol!. Cesta! Ou como você quiser chamar quando algo alcança o objetivo.

Helen Keller é cega e surda desde bebê. Nunca viu o sol nem o mar.
Nunca viu o azul. Nem o amarelo. Nunca viu uma lágrima,
um sorriso ou um olhar. Imagine você, que ve 24 horas por dia, e exerce este hábito automaticamente, não ter nem uma ideia concreta de como são estas coisas tão simples e cotidianas da vida. Helen escreve:
"Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som."

Foi exatamente isso que me fez tremer. Fiquei visualizando à mim mesma, impedida de ver a cor e o branco da vida, já que o que me restaria seria o olhar negro em que se afunda aquele que possui esta deficiência. É difícil imaginar, não acham? Ainda mais nós, que desde que nos conhecemos por gente estamos usufruindo deste bem maior, que é a visão.
Como todos sabemos, quando um indivíduo sofre com algum tipo de deficiência,
aprende a desenvolver outros sentidos.
Helen, impedida de ver, escolheu sentir.
Ela não via o mar, sentia; Não via a luz do sol, sentia seu calor; Não pode ver as folhas voando com o vento, mas sentiu seu cabelo esvoaçar com a brisa. Ela foi privada de coisas tão comuns, mas decidiu que sentir seria o meio mais próximo para chegar até a realidade.

Quem sabe Helen tenha até absorvido, muito mais do que nós,
a essência de tudo. Em nenhum momento ela construiu suas relações afetivas
baseada em aparências superficiais. Ela precisava conectar-se com o outro.
Sentir que o que havia era sincero e recíproco.
Helen Keller era verdadeira, como todos os que se disponibilizam a sentir são.
Se ela tivesse três dias de visão, usufruiria de diversas atividades consideradas
normais. Porque Helen sonhava com o que nós nem valorizamos mais.

Dessa forma, todo o conteúdo do texto, todas as palavras utilizadas por Helen,
e todo sentimento que ela demonstrou ao escrever, me trouxeram inúmeras indagações a respeito do que eu faria se tivesse apenas três dias de visão.
Cheguei em tantas respostas. Tantos sonhos.
Mas, por pelo menos algum momento, queria apenas sentir, sem precisar ver,
assim como Helen faz todos os seus dias.
Ama o que sente. E isso lhe basta.