Por um tempo, me satisfaziam aqueles enredos, afinal a certeza de um final feliz me confortava.
Com o passar dos anos, o natural aconteceu, e meu foco mudou. Sempre tive o hábito da leitura e vou carregá-lo comigo até o último instante, mas aquela velha história do 'felizes para sempre' já não completava mais o espaço que me faltava.
Era preciso que algo diferente, como uma mudança nesse cronograma já conhecido, acontecesse.
Não queria uma certeza sobre o final, mas sim a surpresa de ver até aonde a vida, e somente ela, poderia conduzir determinada história.
Talvez naquele momento, eu já começasse a ensaiar os primeiros passos para fora do bando. Não tinha a pretensão de me sobressair ou de inferiorizar aos demais. Eu só não gostava, nem vou gostar nunca, dessa coisa de que tudo precisa ser igual, pra todo mundo, Eu não era, nem sou melhor. Só um pouco diferente.
Os primeiros anos da escola foram tranquilos, pelo menos é assim que lembro deles. Fui sim, uma criança ativa, mas sem nenhum exagero. Tinha ciúmes dos meus amigos e dos meus brinquedos, mas o maior de todos, era com os os meus livros. Eles sempre foram uma parte fundamental, como um representação minha, então era perigoso aos meus olhos deixar que alguém assim os invadisse.
Nunca gostei do rosa. Eu era apaixonada por azul e assim segue sendo. Sem estereótipos sempre foi melhor.
Hoje, depois de algumas primaveras, leio absolutamente tudo que me faz bem naquele instante. Claro que me fixo mais em alguns gêneros e autores, porque existe sempre aquela cumplicidade silenciosa. Mas em inúmeros momentos, eu quero e preciso fugir daquela leitura habitual, e me permito experimentar o desconhecido, como que buscando algo que não precisa de um nome específico.
Mas bem, chegando ao propósito deste post, que segue meio confuso, assim como quem o escreve, me peguei pensando naquele 'felizes para sempre' que era tão bem pronunciado por minha mãe.
Um dia eu amei e cultivei essa realidade, afinal era disso que necessitava naquela idade onde se ama quase tudo sem um motivo ou um por que.
E hoje, existem desejos distintos, desde encontrar alguém que ame, que traga plenitude, que odeie crises de choro, mas mesmo assim fique por perto. Que não compreenda o silêncio, mas assim o aceite e não o inunde com palavras infundadas, a fim de quebrar aquele clima estranho. E aliado à estes desejos, ainda está aquele que foi cultivado desde cedo: viver uma história sem um, ou dois, ou quantos forem, 'felizes para sempre', mas sim um felizes até que a vida e os dois, assim desejarem.
A nostalgia de relembrar aquelas velhas histórias infantis me trouxe um sentimento bom, mas não mudou minha concepção. Entre os últimos nascimentos do sol e da lua, tenho vivido momentos que poderiam ser dignos destas histórias. Mas meu lado racional, que vem sendo exercitado a duras penas nos últimos anos, não permite que eu abra esse tipo de exceção.
Por favor, não me entenda mal. Não sou gélida, muito menos alguém incapaz de sonhar e apreciar momentos de felicidade. Mas eu prefiro que o início não dependa de um 'felizes pra sempre' para se tornar algo eterno.
Eterno para mim, é tudo aquilo que vai ser lembrado nos momentos mais impensados da nossa vida. É aquela sensação boa que pode te invadir quando você, por mero acaso, se deparar com uma lembrança, um som, uma música, ou uma palavra qualquer.
Se pudesse reviver determinados momentos, assim eu os faria.
Só que para eu me jogar do alto, sem medo da queda, com uma vontade imensa de apreciar o que aquele salto pode me proporcionar, eu preciso que a vida me mostre que tudo pode ser real.
Não há espaço para o que não faz meu coração vibrar. E hoje, depois de tudo, existe muito pouco disso.
Quando algo surgir por aqui, eu sei que ele não vai precisar de um 'felizes para sempre', para ser exatamente tudo que eu sempre sonhei. O que me faz bem, não merece ter um prazo de validade, mesmo que este seja a eternidade dos dias.