Ela se pergunta todos os dias porque se encontra nesta situação.
Se pergunta por que sentir é tão importante em sua essência.
Tenta avaliar situações diferentes da sua
e encontrar mais alguém que se sinta tão deslocado quanto ela.
E nessa busca, ela encontrou milhares de pessoas
que ainda procuravam seu sentido no mundo,
mas nenhuma delas seguiu o mesmo caminho que o seu.
Porque compreender que diferenças existem é tão complicado?
Ela acredita que o problema não se encontra nas diferenças
e sim no medo que ela sente de encontrar-se dentro delas.
Ah, o medo.
Como acompanha a sua caminhada.
Medo de decepcionar aqueles que exigem muito dela.
Medo de decepcionar a si mesma.
Porque sim, ela sabe que exige muito dela.
Profissionais da área já afirmaram que ela precisa aceitar suas imperfeições.
Ela não quer esconder suas fraquezas.
Pelo contrário, às demonstra até em horas inadequadas.
Mas então, que medo é esse de falhar?
Que dor estranha a atormenta toda vez que ela sente que o fracasso a ronda?
Talvez os últimos anos tenham trazido tantas responsabilidades
que a simples iminência de uma derrota, faz com que ela tenha medo
de não conseguir proteger aqueles que tanto precisam dela.
E nessa constante proteção aos outros,
esqueceu de proteger a si mesma.
Acabou se isolando, fugindo de certas emoções,
como se tivesse medo de deixar alguém chegar ao principal.
Não que seja de ferro ou intransponível.
Houve alguém que chegou onde ela se escondia.
Alguém que soube buscar o seu melhor e que mereceu recebê-lo.
Mas infelizmente fatores maiores do que os dois,
acabaram anunciando um final premeditado.
Depois disso, escondeu-se de si mesma.
Por vários dias, procurou o quarto escuro para tentar esquecer
que mais uma vez, suas apostas a levaram ao caminho errado.
E desde lá, segue intercalando momentos de pura ambigüidade.
Está feliz sendo triste.
Paradoxo que a acompanha constantemente.
Sua felicidade não requer amplos sorrisos,
nem gargalhadas estridentes, ou festejos alucinados.
Ela decidiu que sua felicidade estaria na página de um livro,
num abraço de uma criança ou no sabor de uma palavra.
Escolheu viver dentro de si, para que pudesse
entender o que significa sentir.
E por inúmeros momentos, teve vontade de desistir.
De se revoltar com tudo e com todos.
Cansou de cair e ter que levantar sem poder fazer ruídos.
Queria que alguém olhasse pra ela e percebesse o quanto estava cansada,
e como num filme com final feliz, a erguesse mais uma vez.
Mas a muralha já estava lá. Instalada firmemente,
criando obstáculos quase que intransponíveis
para aqueles que tentavam atravessá-la.
Houveram dias em que ela se libertou.
Abriu a porta e deixou que novos ares a penetrassem.
Mas ao primeiro vento forte, fechou-a novamente.
E hoje, ela continua da mesma forma, mas totalmente diferente.
Está buscando uma frestinha de luz.
Está olhando para o futuro, com possibilidades reais.
Em alguns pontos, segue vivendo sentimentos do passado.
Mas não tenta mais expulsá-los.
Ela compreendeu que a mesma dificuldade que encontra
em deixar às pessoas entrarem em sua vida,
está instalada na hora em que elas precisam partir.
Dói na chegada, porque o medo atormenta.
Dói na partida, porque a saudade sufoca.
E por que tudo precisa ser assim?
Porque ela é assim.
E ser, será sempre eterno,
até a hora em que ela decidir mudar, mais uma vez.