Eis-me aqui, cabeça baixa, dia lindo: sol.
Presa dentro de casa, cansada demais pra tudo.
Todas as palavras estão aqui, estão prontas, estão me matando.
- Senhor, como é possível enlouquecer tão facilmente? - me pergunto.
Sei de todas as respostas, mas resolvo esconder. Hoje dói menos. Amanhã? Nem sei.
Então, num acesso de coragem, me vejo com a caneta, o papel e as lágrimas.
Escrevo a derradeira. Aquela que eu vivo dizendo que será a última. O ponto final dentro de uma história que até agora só me mostrou vírgulas e parágrafos incompletos.
Se vais ler, não sei. Se vou mandar, pode ser. Se vai gostar, não quero saber.
Ultimamente, para qualquer indagação que sofro, respondo como alguém que não sabe mais se vive aqui, ou em algum lugar escuro, quem sabe seu sótão particular, um mundo que criou a fim de tentar se encontrar, se sentir alguém, mesmo sem nem saber o por quê.
O comum seria começar dizendo o quanto me fez bem.
Mas nada do que aconteceu aqui, um dia foi comum. Então começo dizendo o quanto eu mesma me fiz mal, a partir do momento em que te coloquei como o foco de um rumo já desalinhado.
Buscava em ti proteção, carinho e afeto. Mas esqueci que a fonte, deveria vir primeiramente de mim, para que você apenas pudesse completá-la. Nada de excessos, nem extremos.
Sempre quis tão pouco, e foi exatamente por isso que parecia exigente demais.
Se pudesse traduzir o seu significado em minha vida, usaria palavras como surpreendente, inovador, belo, perigoso... Mas para que tentar descobrir o quanto você significou em mim sabendo que uma simples conclusão só faria aumentar a dor?
É isso. Não quero entender porque chegou, porque me ganhou, porque marcou de uma forma como nunca alguém havia feito, e muito menos, porque a nossa história não teve continuidade.
Não quero números, não quero quantidade, não quero nem recordações.
Acho que hoje, tudo em mim está tão pequeno, está tão fechado, está tão cansado, que nem a sua volta mudaria o que ainda resta por aqui.
Sim, não sou egoísta. Sei que em você também doeu, porque algum dia percebi que signifiquei algo, mas as impossibilidades que rondam a minha vida, bateram à sua porta e deixaram marcas, que acabaram afastando cada vez mais, um indício de amor que talvez você alimentasse.
É, eu sei. Você é um ser humano. Pode amar, já deve ter amado, já deve ter sofrido, sei que sim.
Sei que acreditou nos meus sentimentos. Sei da felicidade que sentiu e também do medo, da dor e da raiva que alimentou quando tudo aconteceu.
E se hoje, olhasse em seus olhos, pediria desculpas, como fiz naquela fatídica tarde de domingo, dia de sol, onde tive a certeza de que eu queria você e nada mais.
Hoje penso em você, como alguém que me ensinou tanta coisa, através da dor e do amor.
Porque aprendi que na dor se sente mais, se afunda mais, a volta é mais dura, a vida não é mais tão colorida e você mesmo, aprende que cair sempre te faz levantar mais forte.
Não quero mentir pra você. Acho que era isso que mais gostava em nossa história. Eu poderia ser sincera e você aceitaria a mim mesma, como sou. Sem estereótipos, sem máscaras, sem essa exigência de criar uma nova personalidade. Desnudada, sem nenhum artifício, eu, somente eu, você, somente você.
Hoje aqui, sinto sua falta. Mas não quero mais nenhum laço.
Chega uma hora em que a gente percebe que o amor acaba, e a vida precisa seguir.
Do que adianta manter uma história, onde me vês como uma amiga, e eu lhe quero como algo que não consigo definir exatamente?
Racionalmente falando, amar era algo distante pra mim.
Paixõezinhas, dessas de amigo da escola, eu já tive. Acho que todo mundo teve. Quem sabe até você. É, isso é mais uma coisa que desconheço em sua vida. Quem sabe, se tivéssemos dado uma chance a nós mesmos, as coisas poderiam ser diferentes.
Era pra ser uma carta curta, era pra ser a última, era pra ser bonita, era pra ser tanta coisa, assim como a gente também era pra ser...
Mas eu errei de novo, quem sabe você também tenha errado.
E o silêncio hoje, será melhor do que tentar consertar tudo isso.
Te amei. Nunca te disse.Presumi que você soubesse. Mas hoje sei que às vezes até o óbvio precisa ser dito claramente. Me desculpe, estou aprendendo a conhecer isso que chamam de amor.
Se me amou? Não sei. Quem sabe. Talvez. Isso importa?
Sei que não será a última carta, nem a última lágrima, porque ainda sinto sua presença aqui.
Dói suportar o silêncio que está se transpondo entre nós.
Mas as palavras, estavam doendo mais ainda.
Sigo o rumo, como alguém normal, que comete seus erros, cai e depois levanta.
Se desaprovas minhas ações, eu não sei.
Se acredita em minhas palavras, espero que sim.
Desaprovo algumas de suas atitudes, mas não te cobro nada.
Atrás de toda atitude humana, existe muito mais do que um simples motivo.
E eu sei que você é muito mais do que demonstra ser.
Está dito. Haveria muito mais à dizer. Mas a dor começa a latejar mais intensamente.
Preciso me recolher. O meu sótão me espera.
Adeus.? Até logo? Até breve?
Se alguém souber qual é a maneira menos dolorida de partir, por favor, me diga.
Porque hoje dói. Meu Deus, como dói.
Vou sentir sua falta.
Mas você me ensinou que a vida sempre segue, e nem sempre podemos ter o que queremos.
Obrigado, era exatamente isso que faltava para que eu pudesse, finalmente, partir.
"Guarde o melhor de mim,
que no meu peito eu vou te guardar
Vai ser melhor assim
vai ser melhor pra mim
Um dia a gente vai se perdoar"
(LS Jack)